Brasília - Esse é o montante do prejuízo causado apenas pela diferença de preço da arroba pago pelos frigoríficos em território livre da doença. Anualmente R$ 300 milhões não entram no bolso do produtor e outra dezena de milhões não são recolhidos aos cofres do Tesouro Estadual.
Mas a notícia desagradável vem das estranhas declarações proferidas em Paris perante a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em janeiro, por combatentes que todos achavam que estavam do lado de cá da guerra.
Trata-se do diretor de Defesa Animal e delegado do Brasil na OIE, Jorge Caetano Júnior, chefe da delegação, composta por Jamil de Souza, Geraldo Marco de Moraes e Victor Picão Gonçalves, este último, estrangeiro, de nacionalidade portuguesa e professor da Universidade de Brasília (UNB).
Os quatro representando o país naquele Fórum em que o Brasil é signatário, sob o comando de Caetano Júnior, afirmaram diante dos cientistas e autoridades da OIE, que o Estado do Pará desenvolvia um programa de erradicação com falhas ou inconformidades técnicas na “vigilância sanitária, na estrutura dos serviços veterinários e que a auditoria realizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) não recomendava o encaminhamento da proposta do Estado para a certificação internacional na área Centro-Sul do Estado como livre da doença”.
“Essas afirmações não condizem com a verdade, tendo em vista que o relatório dos auditores do próprio MAPA não menciona tal afirmativa”, disseram em documento entregue ontem ao ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, subscrito por quatro dos maiores sindicatos de produtores rurais do Pará (Marabá, Redenção, Jacundá e Parauapebas), e pelo Sindicato Paraense da Pecuária de Corte, indignados com o episódio.
GUERRA - O estado permanente de guerra com o levante de barreiras comerciais impostas por poderosos lobbys até então invisíveis e que perdura meia década, pode estar ameaçado por mais um ano ao custo de aproximadamente R$ 80 milhões a cada 12 meses, apesar das 20 milhões de rezes que compõem o atual rebanho paraense estarem sob absoluto controle vacinal.
Segundo Carlos Fernandes Xavier, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), ontem, em entrevista exclusiva ao repórter em Brasília, o relatório do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), atesta que a cobertura vacinal do plantel estadual atingiu na última campanha 97,24%. “É o índice mais alto do Brasil”.
Ocorre que as regras desta guerra não estão completamente esclarecidas e alguns inimigos do fronte só agora começam a ter nome e sobrenome revelados e estão entrincheirados no alto escalão governamental.
Um renomado jurista com renome em relações comerciais internacionais consultado pelos produtores, vê na atitude do quarteto que representa o Brasil na OIE, nomeados por decreto especial assinado pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, “um ato de Lesa-Pátria”, em linguagem de guerra: “Uma traição ao país”.
Um episódio surreal como esse, só agora revelado ao triunvirato nacional que compõem a Campanha de Erradicação da Aftosa no Brasil: o MAPA, a ADEPARÁ e os produtores rurais, causou indignação aos produtores. São bilhões de dólares em disputa e o Pará poderá, de acordo com Xavier, estar no topo da exportação com o seu “gado verde”, “tão logo caia a barreira sanitária”. “Esperamos a abertura de um corredor para o boi em pé e aquele de elite, destinado às exposições nacionais, dentro do mercado nacional, mas, nem isso até agora foi autorizado”, queixou-se.
Paulo Auge de Melo, ao analisar o relatório da sorologia, apontou que nada de errado há no rebanho do Centro-Sul paraense, A reatividade encontrada nas amostras colhidas por técnicos do MAPA são traços deixados pela própria vacina, e não pelo vírus da aftosa. REPRESENTAÇÃO – Foi protocolado ontem no MAPA uma representação que pede explicações ao ministério sobre as afirmações dos representantes brasileiros na OIE por quebra de hierarquia.
No mesmo tom o senador Luis Otávio Campos (PMDB/PA) enviou um requerimento à Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) convidando Jorge Caetano Júnior, chefe da delegação, Jamil de Souza, Geraldo Marco de Moraes e Victor Picão Gonçalves a confirmarem o que disseram na OIE.
O senador explicou que enviou também ofício endereçado ao Itamaraty, na pessoa do Ministro Conselheiro, Pedro Luis Rodrigues para que interceda junto a OIE para referendar ou não as declarações dadas pelos representantes do MAPA.
Em contato telefônico com o Presidente do Sindicato Rural de Redenção, Luciano Guedes, a posição não foi diferente :"Nós produtores rurais do sul do Pará não aceitaremos passivamente esta posição do Ministério, se realmente tem aftosa no Sul do Pará que interditem as propriedades e tomem as demais medidas sanitárias, entretanto se não há a doença, como estamos provando, os culpados pela perseguição a região não podem ficar impunes. “Os culpados irão pagar um preço muito caro na Justiça, pois iremos processar do faxineiro ao Presidente da República até descobrirmos quem realmente está por traz desta armação contra o Pará". E ainda afirmou: "Devo reconhecer o esforço do Governador em apurar o fato e também deputados do PT, que já contatei, reafirmaram o apoio que nós produtores rurais teremos na apuração destes deste absurdo”.
A reportagem tentou ouvir os quatro representantes do MAPA as 19h00 e os telefones não atenderam. Dez dias após a visita dos quatro representantes do MAPA à OIE, o governador Simão Jatene (PSDB) esteve na OIE em Paris e finalmente soube de toda a história que lhe foi passada pelo Dr. Bernard Vallat, diretor Geral da OIE, D. Sibartie, Adjunto do Chefe do Departamento Científico e Técnico do órgão.
Em audiência com o ministro Roberto Rodrigues o governador solicitou enérgica investigação e apuração do caso.
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