Com Agência Ibama
Ciência
Brasília - Há três décadas quando foi idealizado, o Laboratório de Produtos Florestais (LPF) do IBAMA, centro de desenvolvimento de pesquisa e tecnologia utilizando a madeira brasileira e outros produtos florestais, gerou e está transferindo conhecimento capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável no setor florestal e até de produção de energia limpa, o que prova que investimentos em pesquisa são muito bem–vindos e necessários a um país que tem ao seu redor, o maior potencial mundial nesse setor dada sua espetacular biodiversidade. A prova disso é que o resultado do projeto começa a revitalizar a indústria nacional de instrumentos musicais que já estão marcando presença nas melhores vitrines do mundo.
O desenvolvimento do trabalho do LPF está organizado em torno de Linhas de Pesquisa e Projetos, conforme as diretrizes traçadas pelo IBAMA e em consonância com as necessidades da sociedade, e que são atendidas, muitas vezes, pelo estabelecimento de parcerias de cooperação técnica entre o LPF e instituições públicas e privadas.
Nessas três décadas de pesquisa os resultados estão colocando a madeira e a sobra dela, em evidência e despertando o interesse da indústria de instrumentos e de setores que utilizam ou pretendem utilizar energia limpa.
Dois dos projetos do LPF estão se destacando. O primeiro desenvolveu a utilização da madeira brasileira para a fabricação no próprio país de instrumentos musicais de alta qualidade e contribuindo para o soerguimento da indústria nacional de fabricação de instrumentos musicais. O segundo, que despertou a curiosidade e interesse de vários países da Comunidade Européia, utiliza resíduos (aparas, sobras e pó de serragem) das indústrias madeireiras para a produção de briquetes de serragem – que vem a ser blocos de biomassa para a geração de energia limpa. Com o aproveitamento desses rejeitos, um grande problema começa a ser equacionado. O pó de serraria é considerado como poluente, pois, na maioria das vezes é eliminado do pátio das indústrias ateando-se fogo, o que gera uma fonte de poluição do ar para as populações que residem as proximidades de tais serrarias.
Espécies da Amazônia afinam o desafinado mercado de produção de instrumentos - Um projeto ambicioso do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama pretende transformar o país também em um exportador de outros instrumentos musicais, como gaita, guitarra, violão, piano, violino, flauta, entre muitos outros de percussão. Todos produzidos em território nacional, com madeiras pouco conhecidas da Amazônia.
O foco de interesse dos pesquisadores do LPF, se concentrou na análise 50 das 300 espécies de madeira da Amazônia. Mário Rabelo, que coordena o projeto, disse que “O LPF observou que o Brasil importou em um ano R$ 1 milhão em instrumentos musicais. Vários desses instrumentos são produzidos com a madeira da Amazônia”, informou.
Foi estabelecido então uma parceria entre o Laboratório do Ibama com a Hering Harmônica, que deram à luz a uma gaita feita com madeira do tipo tauari. “Foi uma parceria importante. Nós precisávamos de uma empresa para viabilizar a confecção dos instrumentos e a Hering estava pesquisando espécies nacionais para produzir gaitas de madeira”, diz Mário Rabelo, coordenador do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama.
A grande vantagem da utilização de madeiras nacionais para a fabricação de instrumentos no país, segundo Rabelo, é o barateamento dos custos tanto para os consumidores brasileiros como estrangeiros. “Uma gaita importada custa em torno de R$ 100. A Hering Harmônica consegue 2ende-la por R$ 50. É uma queda muito significativa”, afirma ele.
Após a bateria de testes, o som afinou e foi a provado pela Hering. Foi constatado que as espécies selecionadas obedeciam: cor clara, estabilidade que não proporciona deformação com o uso, freqüência de vibração que permita o formato adequado ao instrumento, ausência de gosto e cheiro, decaimento logaritmo necessário (fator que determina a persistência e qualidade do som), dentre outros detalhes de natureza sonora.
Mercado reage - Nos últimos 15 anos, cerca de 150 fabricantes de instrumentos musicais que estavam fora de compasso do mercado foram definitivamente silenciadas a partir da abertura do Brasil aos produtos importados, de melhor qualidade. Nossos musicistas deixaram de lado os modelos nacionais, por não estarem devidamente atualizados e não oferecerem preços à altura. Milhares de trabalhadores especializados num ofício tipicamente artesanal perderam a fonte de renda. Foi uma redução drástica e traumática: restaram pouco mais de 20 empresas no ramo que empregam 5 mil pessoas.
O setor de instrumentos musicais no Brasil após vários e dolorosos ajustes, mantém uma taxa de crescimento média de 6%, um índice bem superior ao início dos anos 2000 em relação ao Produto Interno Bruto (PIB). A indústria faturou US$ 318 milhões em 2002 e, desse total, US$ 25 milhões foram gastos em importação de instrumentos de madeira, muitos deles feitos no exterior, mas com espécies brasileiras.
No mundo, são conhecidas cerca de 15 espécies usadas em instrumentos, enquanto as madeiras brasileiras têm potencial comprovado em estudos anteriores para substituir com vantagens a maioria delas. "Nós não precisamos dessa importação. O Brasil é diferente da Europa e dos Estados Unidos, que têm uma variedade de menos de 20 madeiras. Aqui, nós temos um mercado de 150 espécies, com potencial de quatro mil", observa o coordenador do laboratório. Depois de testar outros instrumentos com madeiras brasileiras, o Ibama pretende lançar um CD com músicas nacionais tocadas por instrumentos do país, acompanhado de um catálogo das madeiras disponíveis, com seus potenciais acústicos, nomes científicos e populares e as cores das cerca de 50 espécies selecionadas e seu melhor uso. O laboratório selecionou 300 espécies de madeira e testou dez tipos diferentes para a gaita e outros instrumentos, avaliando peso, volume, tração e dureza. O resultado para a flauta reta foi o tauari e o louro, considerados positivos. "As diferentes madeiras oferecem variações de utilização do instrumento. O músico que usar a gaita para o samba pode preferir o instrumento de uma madeira e para o blues de outra".
Energia limpa e inclusão social com sobras de madeira - A CEE - Comunidade Econômica Européia está negociando com o Brasil, através do LPF - Laboratório de Produtos Florestais do Ibama - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, a compra de tecnologia para geração de energia limpa proveniente da biomassa, para transferência a países tropicais, prioritariamente da Ásia e da África.
A França, por exemplo, busca no Ibama alternativas para substituir a energia fóssil e nuclear, que o LPF tem à disposição. Em troca, a CEE ajudará o Brasil na exportação destas tecnologias e na difusão interna de projetos de valorização de resíduos vegetais e de outros ecologicamente corretos.
Nesta procura, a Comunidade Econômica Européia está acertando com o LPF/Ibama a exportação de briquetes (pó de serragem e de cascas vegetais compactadas) - processo difundido pelo pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais do Instituto, Waldir Ferreira Quirino, para a valorização energética dos resíduos brasileiros que apodrecem a céu aberto poluindo o meio ambiente. Trinta quilos de briquetes seriam suficientes para iluminar com energia limpa, proveniente da biomassa, uma residência que consome 100 kWh/mês de luz elétrica de fonte hidráulica, garante Quirino.
Estima-se que o volume dos resíduos madeireiros chegue a 18 milhões de toneladas por ano, segundo Marcus Vinícius Alves, chefe do LPF.
Uma outra conquista muito além do domínio tecnológico é a inclusão social de maneira simples e sem maiores burocracias. Um trabalho liderado pelo pesquisador Waldir Ferreira Quirino, do laboratório, contribuiu para a implantação de uma usina de briquetagem em Pimenta Bueno (RO), com capacidade para produzir uma tonelada de briquetes por hora. “Estamos em fase de implantação de 50 pequenas e médias empresas, que de maneira cooperativa, podem produzir sua própria fonte de energia, com uma briquetadeira e algum esforço para uniformizar a granulação e a umidade dos rejeitos madeireiros”, estimou.
Um campo fértil seria o Pará para essas experiências que geram ocupação, emprego e renda de maneira descomplicada, avaliaram os técnicos do Centro de pesquisa, em razão da grande quantidade de indústrias madeireiras no Estado.
“Um briquete é bem mais denso e tem menos ar que a lenha convencional”, compara Marcus Vinícius Alves. Um metro cúbico de briquetes tem mais material combustível que um metro cúbico de madeira. Por isso é mais eficiente. Outro filão, atestou Alves, é que como alguns fornos que “contam” com o ar presente na lenha, como padarias, pizzarias, cerâmicas e termogeradores possivelmente teriam de adaptar seus queimadores obtendo um resultado de muito maior eficiência, disse o cientista.
Tratamento de resíduos químicos - A Comunidade Econômica Européia também busca no LPF/Ibama a transferência de uma outra tecnologia desenvolvida por Waldir F. Quirino para tratamento de resíduos químicos, que isola apenas da parte contaminada por produtos tóxicos usados na conservação da madeira, deixando o restante do produto intacto.
O processo conhecido por Valorização Energética de Resíduos Contaminados por Pirólise em Estágios (degradação térmica em ambiente controlado efetuada em patamares de temperatura), poderá ser empregado, da mesma forma, em madeira preservada com o polêmico CCA - cromo, cobre, e arsênico - comum em todo o mundo.
Adotando este processo, Quirino garantiu que as empresas poderão reduzir significativamente o alto custo do tratamento dos efluentes poluentes – a parte financeira mais pesada para a indústria moderna. Na conservação dos aglomerados de madeira, por exemplo, apenas seis por cento são resinas tóxicas que precisam ser tratadas. O método convencional trata toda a madeira, encarecendo muito o procedimento. Já o procedimento desenvolvido pelo pesquisador do LPF/Ibama trata apenas os seis por cento contaminados. Para chegar a este resultado e degradar apenas a parte contaminada do produto, Waldir F. Quirino explicou o tratamento é exclusivamente térmico. A madeira é colocada em forno especial, a 250 graus Celsius, ficando o restante intacto para outras utilizações ou como energia limpa. Ele informou que a Comunidade Econômica Européia não permite mais a incineração normal desse resíduo, motivo pelo qual busca novas tecnologias de tratamento disponíveis no Brasil, através do LPF/Ibama.
Objetivando reforçar a participação do LPF/Ibama no intercâmbio científico-tecnológico de cooperação bilateral Brasil/França na área de energia alternativa da madeira o representante do CIRAD - Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento, órgão do governo francês equivalente à Embrapa, permanecerá até meados de dezembro no país conhecendo o trabalho dos pesquisadores do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama. Waldir F. Quirino - PhD em Valorização Energética de Resíduos, com tese defendida na França, é o interlocutor oficial brasileiro junto ao CIRAD.
Laboratório de Produtos Florestais
HISTÓRIA - O Laboratório de Produtos Florestais - LPF é um Centro Especializado do IBAMA que vem atuando, desde 1973, na área de tecnologia de madeira e outros produtos florestais, gerando e transferindo conhecimento capaz de contribuir para o desenvolvimento sustentável no setor florestal.
Para a execução do seu trabalho o Laboratório dispõe de uma equipe multidisciplinar, composta de pesquisadores e técnicos em processo contínuo de capacitação e atualização de conhecimentos, e conta com modernos laboratórios instalados em uma área de 4.500 m2.
O desenvolvimento do trabalho do LPF está organizado em torno de Linhas de Pesquisa e Projetos, conforme as diretrizes traçadas pelo IBAMA e em consonância com as necessidades da sociedade, e que são atendidas, muitas vezes, pelo estabelecimento de parcerias de cooperação técnica entre o LPF e instituições públicas e privadas.
A difusão e a transferência de tecnologia, gerada com os trabalhos de pesquisa e desenvolvimento, têm sido de fundamental importância para a sua inserção no contexto nacional como centro de referência na área de tecnologia de produtos florestais.
O Brasil verde além do samba e do pandeiro - 22/5/2003
Robinson Borges/Valor Econômico - O Brasil não quer mais ser conhecido no exterior apenas como a terra do samba e do pandeiro. Um projeto ambicioso do Laboratório de Produtos Florestais do Ibama pretende transformar o país também em um exportador de outros instrumentos musicais, como gaita, guitarra, violão, piano, violino, flauta, entre muitos outros de percussão. Todos produzidos em território nacional, com madeiras pouco conhecidas da Amazônia.
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