sexta-feira, abril 11, 2008

Tarso Genro autoriza PF nas investigações do vazamento de dossiê das contas de FHC

Análise do jornalista Gustavo Krieger em artigo no Correio Braziliense compara a um "abacaxi" a encrenca que o ministro da Justiça Tarso Genro terá que enfrentam com a imprevisibilidade das investigações do vazamento do dossiê das contas do ex-presidente FHC.

Abacaxi para o ministro


Comprometer a imagem da PF para preservar Dilma ou qualquer outro ministro seria um movimento arriscado demais

A investigação da Polícia Federal (PF) sobre o tal dossiê da Casa Civil é um abacaxi de bom tamanho que despencou na mesa do ministro da Justiça, Tarso Genro. O inquérito é um do tipo em que, aconteça o que acontecer, no final o governo perde. Se a apuração não incriminar ninguém da Casa Civil, próximo da ministra Dilma Rousseff, a imprensa verá o resultado com desconfiança e a oposição sairá gritando que tudo não passou de uma manobra. Por outro lado, se apontar o dedo para Dilma ou alguém ligado a ela, a crise se agravará dentro do governo. De qualquer jeito, quando o jogo terminar, alguém vai reclamar do juiz. Ou, no caso, do ministro da Justiça.

Há dias o ministro vem tentando equilibrar-se nessa situação complicada. Delimitou um campo para a investigação. Diz que ela deve restringir-se ao que segundo ele constitui crime: o vazamento de informações sigilosas sobre gastos da Presidência da República na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. Mais especificamente, refere-se ao conjunto de papéis revelados pela revista Veja e à planilha eletrônica publicada na Folha de S.Paulo.

Por essa tese, a Polícia Federal não entraria na acusação de que os documentos foram reunidos e tratados para municiar parlamentares governistas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos. O que foi feito pela Casa Civil, portanto, ficaria de fora. O argumento do ministro é que a PF não é uma polícia política e não tem como julgar as intenções por trás da montagem do banco de dados e de sua utilização.

No cenário dos sonhos do governo, ficaria provado que alguém ligado à oposição entrou nos computadores da Casa Civil, tirou uma cópia dos dados e os entregou à imprensa. Descobrir esse eventual araponga seria uma forma de virar o foco do caso.

Tudo bem, mas são pequenas as chances de que esse roteiro seja cumprido. Investigações da PF costumam adquirir uma dinâmica própria. Os policiais já apreenderam seis computadores da Casa Civil. A perícia pode revelar quem mandou imprimir os papéis com os dados, mas também abre espaço para descobertas sobre como a Casa Civil operou sua confecção. O governo já apresentou diversas versões para a montagem do “banco de dados”, sempre negando que ele tenha sido pensado como arma política. Os registros do disco rígido podem indicar outra coisa.

A experiência recente também mostra casos em que informações contrárias aos interesses do governo vazaram em meio a inquéritos da PF. Por exemplo, as fotos do dinheiro apreendido com petistas “aloprados” presos às vésperas das eleições de 2006, quando tentavam comprar um dossiê contra políticos do PSDB. Ou as gravações que pareciam comprometer Vavá, irmão de Lula, com uma quadrilha presa pela Polícia Federal.

Além disso, a seqüência de depoimentos pode gerar um efeito dominó. Chamado a explicar por que reuniu os dados de uma forma que privilegiava gastos com alimentos caros, bebidas e outras mordomias, o funcionário do Palácio do Planalto que digitou as planilhas pode dizer que foi o chefe quem mandou. E aí, quem sabe o que dirá o chefe?

Por semanas, antes que a existência do dossiê fosse denunciada, ministros e parlamentares governistas gabavam-se de ter muita munição contra o governo FHC. Provocados, soltavam histórias que consideravam mais saborosas. No início desse episódio, havia sim uma intenção de uso político das informações. Se a desastrada operação foi idéia de Dilma, de outro ministro ou até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é cedo para dizer. Talvez nunca se saiba. Talvez surja nas investigações.

O quadro complica-se ainda mais quando se analisam as circunstâncias políticas de Tarso. O ministro passou limpo pelos escândalos do primeiro governo Lula. Construiu uma imagem pública que é boa para ele e importante para o governo. Assim como a imagem de eficiência e dureza da Polícia Federal. Sempre que a oposição diz que há muitos escândalos no governo, Lula responde que na verdade é a PF quem está trabalhando mais e melhor. Comprometer essa imagem para preservar Dilma ou qualquer outro ministro seria um movimento arriscado demais. É um daqueles casos em que a manobra de encobrimento pode ser mais danosa que a denúncia original.

Ao mesmo tempo, o ministro é extremamente ligado a Lula. Apesar das negativas, flerta com a idéia de ser o candidato oficial à sucessão em 2010. Nessa disputa interna, é adversário de Dilma. Se a investigação poupar a ministra, dirão que ele a influenciou para agradar a Lula. Se a PF comprometer a ministra da Casa Civil, não faltará quem ache que ele aproveitou a oportunidade para ferir a potencial competidora.

Não é nada fácil a situação do ministro. Nem do governo.

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