Marcos Coimbra - Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Não é crível que Lula imagine que as vitórias de centenas de candidatos do PMDB, do PTB, do PPB, do PSB, entre vários outros, serão vitórias dele. Quem conhece a política brasileira como Lula sabe que, nas disputas locais, estão em discussão temas locais, de impactos locais
Volta e meia saem na imprensa declarações atribuídas ao presidente Lula que tomara que não sejam verdade. Pelo menos, que não sejam a expressão exata do que diz. No mínimo, que não sejam o que pensa.
Parece que os altos números das últimas pesquisas não estão fazendo muito bem a ele e ao governo. Pelo que lemos, o tom das conversas palacianas tem chegado perto da bravata. “Ganho de qualquer um”, “a oposição vai ter de por o rabo entre as pernas” e coisas semelhantes.
A mais recente é sua avaliação de que as oposições “vão levar uma sova” nas eleições deste ano. É uma frase desnecessariamente beligerante e merece dois comentários.
O primeiro é que ela não diz nada. O que significa “levar uma sova”, falando sobre os partidos quando disputam eleições municipais? Que vai diminuir (imagina-se que em muito) o número de cidades administradas por eles? Mesmo supondo que aconteça, e daí, qual a conseqüência relevante disso? Que vai diminuir o voto que poderão ter na eleição presidencial de 2010? Que serão menores, por essa razão, as bancadas que elegerão para a Câmara dos Deputados e as assembléias?
A história do partido dele mostra que nem uma coisa nem outra derivam do desempenho de um partido nos pleitos municipais. Quando venceu com Lula a eleição de 2002 e fez a maior bancada de deputados de todos os tempos, o PT vinha de eleições onde tinha ganhado em não mais que 187 municípios, menos que 4% do total dos municípios brasileiros. No primeiro turno daquela eleição de 2000, o PT obtivera apenas 14% dos votos, sendo que muitos provenientes de uma única cidade, São Paulo.
Inversamente, as “sovas” que o PMDB e o PFL deram nos outros partidos em diversas eleições municipais não levaram a que tivessem bom desempenho nas eleições presidenciais que enfrentaram, na maioria das quais sequer tiveram candidatos.
Afirmar que alguém vai “levar uma surra” presume que alguém vai “dar uma surra”. E quem seria esse? Lula? O PT? O amálgama partidário que “dá sustentação” ao governo? Os cerca de 14 partidos que integram a “base”, dos quais a maioria formava a “base” de Fernando Henrique?
Não é crível que Lula imagine que as vitórias de centenas de candidatos do PMDB, do PTB, do PPB, do PSB, entre vários outros, serão vitórias dele. Quem conhece a política brasileira como Lula sabe que, nas disputas locais, estão em discussão temas locais, de impactos locais. Seu nome sequer aparecerá nas discussões, pois os eleitores estarão pouco se importando com ele na hora de escolher o prefeito de sua cidade.
Ou tudo se resume a São Paulo e algumas capitais, onde a tal “sova” aconteceria, de acordo com suas especulações? Marta Suplicy, que ganhou uma eleição sem Lula no Planalto e perdeu outra com ele lá, seria, talvez, a primeira a discordar delas. Nas outras capitais (não muitas) em que candidatos do PT têm chance, o mesmo se pode dizer.
O segundo comentário é mais relevante. Frases como essas, que se multiplicam em ritmo acelerado, não condizem com o exercício equilibrado das funções presidenciais. São típicas de dirigentes partidários, algo que Lula é, não pode e não deve negar, mas que não pode suplantar o cargo que ocupa, no qual a partidarização exacerbada não cabe.
É ruim para a sociedade, para nossa cultura cívica e política, que o presidente suba em um palanque e lá fique por anos, agindo como candidato (que diz não ser), zombando da oposição e fazendo ameaças de que vai surrá-la ou sová-la. A popularidade, o apoio que tem pelo que era e aonde chegou, não justificam as frases que lhe são atribuídas.
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