sexta-feira, abril 18, 2008
Amazônia e suas conveniências
Wilson Tosta
Comandante critica quem, ‘atrás de um copo de uísque 12 anos, resolve os problemas do Brasil inteiro’
Considerado um dos principais adversários da demarcação contínua da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, o comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, pediu ontem mudanças na política indigenista brasileira, que classificou de “lamentável” e “caótica”. Em palestra no Clube Militar, no centro do Rio, o general, vestindo uniforme de combate camuflado, apontou, para uma platéia de cerca de 600 pessoas - entre elas, militares da ativa -, a questão indígena como uma das “ameaças internas” à soberania brasileira na Amazônia. Também criticou o que chamou de “esquerda escocesa”, que, disse, resolve os problemas brasileiros com uísque, e encerrou com o grito de guerra das unidades da área: “Selva!”
“Sou totalmente a favor do índio”, afirmou o militar, no primeiro dia do seminário Brasil, Ameaças à sua Soberania. “Até porque não sou da esquerda escocesa, que, atrás de um copo de uísque 12 anos, aqui sentado na Avenida Atlântica, resolve os problemas do Brasil inteiro. Eu não estou na esquerda escocesa. Eu estou lá. Já visitei mais de 15 comunidades indígenas. Estou vendo o problema do índio. Ninguém está me contando como é que é o índio, não estou vendo índio no cinema, não estou vendo índio no Globo Repórter. Estou vendo índio lá, na ponta da linha, e sofrendo com o que está acontecendo.”
Para ele, o problema indígena não pode ser compreendido fora dos quadros da sociedade brasileira. “Quero me associar, para que a gente possa rever uma política que está demonstrado no terreno que não deu certo até hoje”, afirmou. “É só ir lá olhar as comunidades indígenas para ver que esta política é lamentável, para não dizer que é caótica. O que eu tenho encontrado de comunidade indígena carente de saúde, de perspectiva, voltada para o alcoolismo... Essa política indigenista tem que ser modificada. O Exército quer ser parceiro desta modificação.”
Ele lembrou que boa parte da população indígena amazônica fica em torno dos pelotões que a Força mantém na região. O militar evitou, no entanto, criticar diretamente a demarcação da Raposa Serra do Sol. “Não tomei posição contra a demarcação, coloquei um problema”, afirmou, em entrevista. “Em nenhum momento contrariei a decisão do presidente da República. A decisão está tomada e será cumprida por quem de direito.”
Heleno criticou a ausência do Estado que, diz, “permite e incentiva o descaminho e a destruição do patrimônio e favorece a ação das organizações internacionais de todo tipo” na Amazônia. Também atacou a ação de ONGs e as dificuldades impostas à entrada de brasileiros nas reservas, enquanto missionários e entidades estrangeiras se movimentam à vontade.
Ele pediu o reaparelhamento militar. “A Amazônia é hoje a nossa hipótese mais provável de emprego das Forças, é a hipótese alfa.” Uma das possibilidades externas à soberania brasileira na região, afirmou, seria o convencimento da opinião pública internacional de que o Brasil não é capaz de cuidar da Amazônia.” Na platéia, estavam pelo menos três ex-ministros do Exército: os generais Leônidas Pires, Carlos Tinoco e Zenildo de Lucena.
domingo, abril 13, 2008
Bravatas que podem queimar a língua
Marcos Coimbra - Sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Não é crível que Lula imagine que as vitórias de centenas de candidatos do PMDB, do PTB, do PPB, do PSB, entre vários outros, serão vitórias dele. Quem conhece a política brasileira como Lula sabe que, nas disputas locais, estão em discussão temas locais, de impactos locais
Volta e meia saem na imprensa declarações atribuídas ao presidente Lula que tomara que não sejam verdade. Pelo menos, que não sejam a expressão exata do que diz. No mínimo, que não sejam o que pensa.
Parece que os altos números das últimas pesquisas não estão fazendo muito bem a ele e ao governo. Pelo que lemos, o tom das conversas palacianas tem chegado perto da bravata. “Ganho de qualquer um”, “a oposição vai ter de por o rabo entre as pernas” e coisas semelhantes.
A mais recente é sua avaliação de que as oposições “vão levar uma sova” nas eleições deste ano. É uma frase desnecessariamente beligerante e merece dois comentários.
O primeiro é que ela não diz nada. O que significa “levar uma sova”, falando sobre os partidos quando disputam eleições municipais? Que vai diminuir (imagina-se que em muito) o número de cidades administradas por eles? Mesmo supondo que aconteça, e daí, qual a conseqüência relevante disso? Que vai diminuir o voto que poderão ter na eleição presidencial de 2010? Que serão menores, por essa razão, as bancadas que elegerão para a Câmara dos Deputados e as assembléias?
A história do partido dele mostra que nem uma coisa nem outra derivam do desempenho de um partido nos pleitos municipais. Quando venceu com Lula a eleição de 2002 e fez a maior bancada de deputados de todos os tempos, o PT vinha de eleições onde tinha ganhado em não mais que 187 municípios, menos que 4% do total dos municípios brasileiros. No primeiro turno daquela eleição de 2000, o PT obtivera apenas 14% dos votos, sendo que muitos provenientes de uma única cidade, São Paulo.
Inversamente, as “sovas” que o PMDB e o PFL deram nos outros partidos em diversas eleições municipais não levaram a que tivessem bom desempenho nas eleições presidenciais que enfrentaram, na maioria das quais sequer tiveram candidatos.
Afirmar que alguém vai “levar uma surra” presume que alguém vai “dar uma surra”. E quem seria esse? Lula? O PT? O amálgama partidário que “dá sustentação” ao governo? Os cerca de 14 partidos que integram a “base”, dos quais a maioria formava a “base” de Fernando Henrique?
Não é crível que Lula imagine que as vitórias de centenas de candidatos do PMDB, do PTB, do PPB, do PSB, entre vários outros, serão vitórias dele. Quem conhece a política brasileira como Lula sabe que, nas disputas locais, estão em discussão temas locais, de impactos locais. Seu nome sequer aparecerá nas discussões, pois os eleitores estarão pouco se importando com ele na hora de escolher o prefeito de sua cidade.
Ou tudo se resume a São Paulo e algumas capitais, onde a tal “sova” aconteceria, de acordo com suas especulações? Marta Suplicy, que ganhou uma eleição sem Lula no Planalto e perdeu outra com ele lá, seria, talvez, a primeira a discordar delas. Nas outras capitais (não muitas) em que candidatos do PT têm chance, o mesmo se pode dizer.
O segundo comentário é mais relevante. Frases como essas, que se multiplicam em ritmo acelerado, não condizem com o exercício equilibrado das funções presidenciais. São típicas de dirigentes partidários, algo que Lula é, não pode e não deve negar, mas que não pode suplantar o cargo que ocupa, no qual a partidarização exacerbada não cabe.
É ruim para a sociedade, para nossa cultura cívica e política, que o presidente suba em um palanque e lá fique por anos, agindo como candidato (que diz não ser), zombando da oposição e fazendo ameaças de que vai surrá-la ou sová-la. A popularidade, o apoio que tem pelo que era e aonde chegou, não justificam as frases que lhe são atribuídas.
Governo bisbilhoteiro
Ugo Braga - Da equipe do Correio
Dinheiro público
Prática governista de bisbilhotar a vida de cidadãos ou grupos que lhe contrariem é comparada por analistas ouvidos pelo Correio à “ditadura constitucional” montada por Vladimir Putin na ex-URSS
Palocci e o caseiro Francenildo: poder do estado violou direito constitucional do cidadão em meio à luta política com a oposição
O caso do dossiê com gastos sigilosos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, elaborado dentro do Palácio do Planalto e vazado para constranger a oposição, repetiu um tipo de comportamento que analistas ouvidos pelo Correio comparam ao da Rússia, tanto a contemporânea quanto a revolucionária de 1917: a utilização do aparato estatal para esmagar grupos ou pessoas que criam embaraços ao governo. O sociólogo e geógrafo Demétrio Magnoli vê caractéristicas de “estado policial” na administração petista. O cientista político Paulo Kramer enxerga nela um viés autoritário.
O exemplo melhor acabado do Estado atropelando o direito individual se deu em março de 2006. Investigado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos, o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, precisou mentir publicamente, ao negar que freqüentava uma mansão alugada no Lago Sul por um grupo de lobistas de Ribeirão Preto. Esse pessoal engendrava negociatas em meio à renegociação de contrato milionário na área de loterias entre a Caixa Econômica Federal e a multinacional Gtech. A proximidade entre Palocci e os lobistas acabou atestada por um humilde caseiro, Francenildo dos Santos Costa, que trabalhava na alegre casa do lobby e via tudo o que se passava por ali.
Para ser desacreditado como testemunha, Francenildo teve violado o sigilo bancário de uma caderneta de poupança que mantinha justamente na Caixa Econômica Federal. A conta recebera um depósito acima do normal — feito pelo pai, um empresário piauiense, como forma de manter em segredo o filho bastardo. O governo espiou a conta, o que já é crime, e ao deparar-se com a operação, concluiu tratar-se de propina paga pela oposição em troca do depoimento acusador contra o ministro da Fazenda. Os dados bancários de Francenildo vieram a público, mas o tiro saiu pela culatra. Explicado o depósito, restou a pressão da opinião pública. Palocci acabou demitido. “Aquilo foi um crime de Estado típico de regimes policiais”, analisa Magnoli, espantado.
Antes de xeretar e vazar as contas sigilosas de dona Ruth, a Casa Civil já era suspeita de outras operações com dossiês. A então diretora da Agência Nacional de Aviação Civil, Denise Abreu, só aceitou se demitir do cargo em meio à crise aérea depois de receber um lote de documentos com informações desabonadoras sobre sua vida pregressa. Era uma chantagem clara e ela, mesmo revoltada, cedeu. O assunto está sob investigação.
O ex-juiz João Carlos da Rocha Mattos, preso desde os primeiros dias do governo Lula, afirma com todas as letras que a Operação Anaconda, feita pela Polícia Federal, foi deflagrada apenas para apreender um lote de fitas que estavam em seu poder. “Eram gravações ilegais, feitas num inquérito da Polícia Civil de São Paulo. Elas comprovavam o envolvimentos de petistas ilustres no caso da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel”, disse ele ao Correio, três semanas atrás, no quartel da PM onde estava preso, no Centro de São Paulo.
Fábrica de dossiês
“A militância do PT não fez uma opção pela democracia representativa. Para eles, e são eles que estão ocupando os cargos da máquina pública, a democracia é tática, não é estratégica. Por isso, de vez em quando eles lançam mão de ações autoritárias, passando por cima até mesmo da legislação estabelecida”, analisa Paulo Kramer, professor do mestrado em Ciência Política da Universidade de Brasília.
O uso maciço de dossiês acomete até as relações com outros partidos. Na semana passada, o deputado Sandro Mabel (PR-GO) foi vítima de uma dessas orquestrações. Candidato à relatoria do projeto de reforma tributária, ele soube que chegara ao Ministério do Planejamento uma planilha com um levantamento de votações no Congresso. De certa forma, Mabel era acusado de votar contra os interesses do governo. “Nesse caso, erraram, sempre votei com o governo”, dizia, constrangido, num dos corredores do parlamento.
“Não tenho nenhum exemplo de um padrão de comportamento como esse em ambiente plenamente democrático”, depõe Demétrio Magnoli. “O exemplo óbvio que me surge é o da Rússia de Putin, um governo formado essencialmente por ex-espiões, que utilizou a espionagem sistemática para intimidar opositores e levantar informações que seriam usadas em processos judiciais contra adversários. Mas, nesse caso, trata-se de um governo que conduziu o país a uma ditadura constitucional”, completa.
Kramer também menciona a Rússia, só que a revolucionária. “Trotsky pensava que iria herdar o comando após a morte de Lênin porque liderava o Exército Vermelho. Acabou exilado e morto por Stalin. Esqueceu que o exército estava infiltrado pelo partido, mas não o contrário. Há semelhanças com o Brasil: o Estado está tomado pelo partido do governo”, compara.
sexta-feira, abril 11, 2008
Tarso Genro autoriza PF nas investigações do vazamento de dossiê das contas de FHC
Abacaxi para o ministro
Comprometer a imagem da PF para preservar Dilma ou qualquer outro ministro seria um movimento arriscado demais
A investigação da Polícia Federal (PF) sobre o tal dossiê da Casa Civil é um abacaxi de bom tamanho que despencou na mesa do ministro da Justiça, Tarso Genro. O inquérito é um do tipo em que, aconteça o que acontecer, no final o governo perde. Se a apuração não incriminar ninguém da Casa Civil, próximo da ministra Dilma Rousseff, a imprensa verá o resultado com desconfiança e a oposição sairá gritando que tudo não passou de uma manobra. Por outro lado, se apontar o dedo para Dilma ou alguém ligado a ela, a crise se agravará dentro do governo. De qualquer jeito, quando o jogo terminar, alguém vai reclamar do juiz. Ou, no caso, do ministro da Justiça.
Há dias o ministro vem tentando equilibrar-se nessa situação complicada. Delimitou um campo para a investigação. Diz que ela deve restringir-se ao que segundo ele constitui crime: o vazamento de informações sigilosas sobre gastos da Presidência da República na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. Mais especificamente, refere-se ao conjunto de papéis revelados pela revista Veja e à planilha eletrônica publicada na Folha de S.Paulo.
Por essa tese, a Polícia Federal não entraria na acusação de que os documentos foram reunidos e tratados para municiar parlamentares governistas na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões Corporativos. O que foi feito pela Casa Civil, portanto, ficaria de fora. O argumento do ministro é que a PF não é uma polícia política e não tem como julgar as intenções por trás da montagem do banco de dados e de sua utilização.
No cenário dos sonhos do governo, ficaria provado que alguém ligado à oposição entrou nos computadores da Casa Civil, tirou uma cópia dos dados e os entregou à imprensa. Descobrir esse eventual araponga seria uma forma de virar o foco do caso.
Tudo bem, mas são pequenas as chances de que esse roteiro seja cumprido. Investigações da PF costumam adquirir uma dinâmica própria. Os policiais já apreenderam seis computadores da Casa Civil. A perícia pode revelar quem mandou imprimir os papéis com os dados, mas também abre espaço para descobertas sobre como a Casa Civil operou sua confecção. O governo já apresentou diversas versões para a montagem do “banco de dados”, sempre negando que ele tenha sido pensado como arma política. Os registros do disco rígido podem indicar outra coisa.
A experiência recente também mostra casos em que informações contrárias aos interesses do governo vazaram em meio a inquéritos da PF. Por exemplo, as fotos do dinheiro apreendido com petistas “aloprados” presos às vésperas das eleições de 2006, quando tentavam comprar um dossiê contra políticos do PSDB. Ou as gravações que pareciam comprometer Vavá, irmão de Lula, com uma quadrilha presa pela Polícia Federal.
Além disso, a seqüência de depoimentos pode gerar um efeito dominó. Chamado a explicar por que reuniu os dados de uma forma que privilegiava gastos com alimentos caros, bebidas e outras mordomias, o funcionário do Palácio do Planalto que digitou as planilhas pode dizer que foi o chefe quem mandou. E aí, quem sabe o que dirá o chefe?
Por semanas, antes que a existência do dossiê fosse denunciada, ministros e parlamentares governistas gabavam-se de ter muita munição contra o governo FHC. Provocados, soltavam histórias que consideravam mais saborosas. No início desse episódio, havia sim uma intenção de uso político das informações. Se a desastrada operação foi idéia de Dilma, de outro ministro ou até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é cedo para dizer. Talvez nunca se saiba. Talvez surja nas investigações.
O quadro complica-se ainda mais quando se analisam as circunstâncias políticas de Tarso. O ministro passou limpo pelos escândalos do primeiro governo Lula. Construiu uma imagem pública que é boa para ele e importante para o governo. Assim como a imagem de eficiência e dureza da Polícia Federal. Sempre que a oposição diz que há muitos escândalos no governo, Lula responde que na verdade é a PF quem está trabalhando mais e melhor. Comprometer essa imagem para preservar Dilma ou qualquer outro ministro seria um movimento arriscado demais. É um daqueles casos em que a manobra de encobrimento pode ser mais danosa que a denúncia original.
Ao mesmo tempo, o ministro é extremamente ligado a Lula. Apesar das negativas, flerta com a idéia de ser o candidato oficial à sucessão em 2010. Nessa disputa interna, é adversário de Dilma. Se a investigação poupar a ministra, dirão que ele a influenciou para agradar a Lula. Se a PF comprometer a ministra da Casa Civil, não faltará quem ache que ele aproveitou a oportunidade para ferir a potencial competidora.
Não é nada fácil a situação do ministro. Nem do governo.
quarta-feira, abril 09, 2008
Amazônia em dados
Situada no centro-norte do continente sul-americano, a região compreendida pela bacia hidrográfica do rio Amazonas, com cerca de 6,11 milhões km², é a mais extensa do planeta, dos quais 3,87 milhões km² (63% do total) em território brasileiro, compreendendo 25.000 km de rios navegáveis. Sua população, entretanto, corresponde a menos de 10% do total de habitantes do Brasil.
A Amazônia faz parte do território de oito países além do Brasil, são eles: Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Suriname, Guiana e Guiana Francesa.
Só a Amazônia Brasileira é 7 vezes maior que a França e corresponde a 32 países da Europa Ocidental. A ilha de Marajó, que fica na embocadura do rio, é maior que alguns países como a Suíça, a Holanda ou a Bélgica.
Em termos administrativos brasileiros, a região chamada Amazônia Legal é composta dos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão.
Os resultados do Projeto RADAM (Radar da Amazônia) indicaram que 62% do espaço amazônico têm como cobertura a florestal original composta por florestas densas de terra firme ou de várzea (dois terços) e por florestas abertas, transicionais e estacionais (um terço); 20% de sua área são compostas por cerrados - equivalentes à cerca de 50% da totalidade do cerrado brasileiro -, e ecossistemas de transição; e 18% de sua área constituem espaços antropizados (habitados por seres humanos).
UNIDADE DA FEDERAÇÃO - ÁREA TERRITORIAL (KM²)
Rondônia 237.576,17
Acre 152.581,39
Amazonas 1.570.745,68
Roraima 224.298,98
Pará 1.247.689,52
Amapá 142.814,59
Tocantins 277.620,91
Maranhão 331.983,29
Mato Grosso 903.357,91
Total 5.088.668,44
São cerca de 11,5 mil quilômetros de uma porosa fronteira amazônica. (Fonte: ABIN)
Indígenas
Segundo dados apresentados pela Funai o Amazonas possui cerca de 183.066 indígenas,
divididos em 65 etnias, que correspondem a 4,0% da população total do estado.
O município amazonense que possui o maior número de indígenas é São Gabriel da Cachoeira,
onde existem 23 mil índios, e é onde encontramos o segundo idioma mais falado no Brasil, o dos Tucanos.
Quilombolas
O projeto Nova Cartografia Social Brasileira mapeou mais de 1000 comunidades quilombolas na Amazônia Legal. São 750 comunidades no Maranhão, mais de 400 no Pará, quase 100 no Tocantins e dezenas no Amapá e no Amazonas, além de Rondônia. As próprias comunidades participam do processo de elaboração dos mapas em toda a Amazônia.
Diversidade biológica
A superfície da Amazônia sul-americana, ou Grande Amazônia, é corresponde a 5% da superfície terrestre e à 40% da América do Sul, e é equivalente à quase metade da superfície da Europa. Abriga uma das últimas extensões contínuas de florestas tropicais úmidas do planeta, detendo cerca de 1/3 do estoque genético planetário. Estima-se que existam na região cerca de 60.000 espécies de plantas (das quais 30.000 de plantas superiores, sendo mais de 2.500 espécies de
árvores), 2,5 milhões de espécies de artrópodes (insetos, aranhas, centopéias, etc.), 2.000 espécies de peixes e 300 de mamíferos.
População
A população da Amazônia Brasileira, segundo a Contagem Populacional pelo IBGE é de 23,55 milhões de habitantes correspondendo a 12,83% do total nacional, com crescimento médio de 1,64% ao ano desde 2000, quando era de 21,0 milhões. Embora a taxa de crescimento apresente-se decrescente, ela se mantém 40% acima do crescimento médio nacional. Entre 1950 e 2007, a população da Amazônia Legal cresceu 516%, ritmo muito acima da média nacional, que foi de 254%.
Indicadores Sociais
Os indicadores sociais na Amazônia Brasileira, em geral, são ruins, situando-se quase sempre abaixo da média nacional. Em relação ao mercado de trabalho, por exemplo, segundo o IBGE, enquanto a média nacional de trabalhadores com carteira de trabalho assinada em 2006 era de 31,73%, a média na Amazônia Legal foi de apenas 18,35%, sendo que todos os estados da Região apresentavam patamares inferiores à média nacional, revelando o amplo predomínio do emprego informal.
IDH estaduais da Amazônia Legal
UFs - IDH
Rondônia 0,735
Acre 0,697
Amazonas 0,713
Roraima 0,746
Pará 0,723
Amapá 0,753
Tocantins 0,710
Maranhão 0,636
Mato Grosso 0,773
FONTE: PNUD, ATLAS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL, 2000.
Saneamento Básico nos Estados da Amazônia Legal
Domicílios Particulares Permanentes Atendidos (%) – 2000
Rede geral de abastecimento de água - Rede coletora de esgoto ou fossa séptica - Coleta de lixo
Brasil 83,2 70,6 86,6
Rondônia 38,6 46,6 69,8
Acre 47,6 44,7 71,5
Amazonas 68,5 61,2 75,8
Pará 48,2 57,0 77,8
Roraima 82,8 72,8 79,7
Amapá 69,4 27,2 91,1
Tocantins 78,4 21,6 70,4
Maranhão 60,1 53 60,7
Mato Grosso 65,5 34,2 75,6
Fonte: CENSO DEMOGRAFICO, IBGE, 2000.
Terras
De acordo com os dados do Censo Agropecuário de 1996 do IBGE, 24% do território amazônico eram reclamados como propriedade privada - ressalte-se que nos Censos Agropecuários nesta categoria incluíam-se imóveis não regularizados, inclusive os localizados em áreas protegidas -, e 76% eram terras públicas. Deste total, 29% eram áreas legalmente protegidas, incluindo as unidades de conservação e terras indígenas e 47% se enquadram em outras modalidades de terras públicas e terras devolutas, pela posse das quais se engendra um quadro crônico de conflitos e violência.
Transportes
O sistema de transportes na Amazônia Legal brasileira, não obstante a grande expansão ocorrida nas últimas décadas, ainda se apresenta aquém do atendimento das demandas locais, com baixo grau de eficiência e operação em condições bastante precárias.
A rede fluvial é a mais extensa do país e uma das maiores do mundo, com cerca de 20.000 km de rios com boas condições de calado, particularmente na estação chuvosa, mas operado, em geral, com equipamento obsoleto.
Quanto à malha rodoviária, esta é bastante reduzida e, em sua maior parte, não pavimentada, concentrando-se essencialmente no Arco do Povoamento Adensado. O total das rodovias federais, estaduais e municipais totalizam 251.760 kms, sendo 27.774 kms pavimentados; 4.792 kms em pavimentação; 61.230 implantados e em implantação e 157.964 kms em leito natural.
Energia
Hidrelétricas -
Em relação à energia hidrelétrica, o potencial é excepcional. Para um potencial hidráulico nacional de cerca de 260 milhões MW, a Amazônia responde por 120 milhões MW, isto é, quase 50% deste potencial. Contudo, a capacidade instalada é de 12,23milhões MW, o que perfaz 10% deste potencial, enquanto no restante do país a capacidade instalada supera os 50% (capacidade instalada de 76,5 milhões MW para um potencial de 140 milhões MW). A produção de energia elétrica na Amazônia somou, em 2004, 51,60 milhões GWh, com destaque para o Pará (31,39 milhões GWh), seguido dos Estados do Amazonas, Mato Grosso e Tocantins, todos com produção entre 4,6 e 5,5 milhões GWh.
A principal fonte de energia elétrica é a Usina Hidrelétrica de Tucuruí, com capacidade instalada de 8.400 MW. Investe-se hoje na implantação de diversas linhas de transmissão e na construção de duas grandes UHE s no rio Madeira (Santo Antônio e Jirau) com potência conjunta de 6.450 MW e em cinco UHEs no médio Tocantins, além de estudos para a implantação de UHE de Belo Monte ((5.500 MW) no rio Xingu.
Importa destacar que cerca de 50% da atual produção de Tucuruí são destinados para dois grandes consumidores do setor minero-metalúrgico, a Albrás/Alunorte no Pará e a Alumar no Maranhão - a preços fortemente subsidiados; cerca de 20% para a Região Nordeste e os 30% restantes da energia produzida são destinadas para consumo residencial, comercial e das demais indústrias no Pará, Tocantins e Maranhão.
Petróleo-
Em relação às reservas provadas de petróleo na Amazônia Legal, em 2005 estas somavam 91,4 milhões de barris, perfazendo 0,8% do total nacional, e a produção atingia 20,6 milhões de barris, equivalente a 3,3% da produção nacional.
Gás-
No que tange ao gás natural, em 2005, as reservas provadas na Amazônia atingiam 51,5 bilhões de metros cúbicos, ou cerca de 16,8% do total nacional, enquanto a produção atingia 3,57 bilhões de metros cúbicos, cerca de 20,2 % da produção brasileira.
terça-feira, abril 01, 2008
Clube da Aeronáutica discute internacionalização da Amazônia
O MOVIMENTO AMBIENTALISTA-INDIGENISTA, CONFLITOS DE QUARTA GERAÇÃO E A AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI
Editoria on 29 Março, 2008 13:18:00
Íntegra do texto da palestra do jornalista Lorenzo Carrasco, do Conselho Editorial do Alerta, proferida no seminário “Amazônia, ameaçada e cobiçada ”, no Clube da Aeronáutica, Rio de Janeiro, em 27 de março de 2008. O EditorO MOVIMENTO AMBIENTALISTA-INDIGENISTA, CONFLITOS DE QUARTA GERAÇÃO E A AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI, por Lorenzo Carrasco
Contexto estratégico
Para se analisar a atuação do movimento ambientalista-indigenista internacional como um instrumento geopolítico a serviço de interesses hegemônicos do eixo anglo-americano, nas últimas décadas, é preciso enquadrá-lo no contexto estratégico. De fato, a vasta mobilização desse aparato intervencionista de guerra irregular, a partir do final da década de 1980, ocorreu no âmbito do fim da Guerra Fria e da emergência da "globalização" financeira, como instrumentos para a pretendida consolidação da hegemonia unipolar anglo-americana.
Essa "nova ordem mundial", pomposamente anunciada ao mundo pelo presidente George Bush pai por ocasião da Guerra do Golfo de 1991, tinha como um dos seus principais pressupostos a debilitação e neutralização dos Estados nacionais soberanos e a ascensão de atores não-estatais, como as organizações não-governamentais (ONGs), na orientação e determinação das políticas públicas internas e externas, estabelecendo as bases para regimes de soberania "restrita" ou "limitada".
Um desdobramento recente dessa estratégia foi o reconhecimento da "independência" da província sérvia do Kosovo – hoje, um protetorado de fato da OTAN – com base em critérios étnicos, o que representa um precedente perigoso para nações que têm concentrações de populações culturalmente diferenciadas em certas áreas geográficas (não por acaso, a Espanha não seguiu os seus pares da União Européia no reconhecimento do Kosovo).
Entre as diretrizes da "nova ordem", que deveriam ser seguidas por todos os governos, em especial os do setor em desenvolvimento, destacavam-se:
* o afastamento do Estado do papel de indutor do desenvolvimento socioeconômico, o qual deveria ser deixado a agentes privados;
* a privatização de empresas estatais estratégicas, principalmente as ligadas aos recursos naturais e à infra-estrutura (como ocorreu na Rússia, proporcionando a apropriação das empresas estatais por uma estrutura ostensivamente mafiosa, e no Brasil, com a Cia. Vale do Rio Doce, os setores elétrico e de telecomunicações, a abertura do setor petrolífero e, agora, a pretendida privatização da exploração de minérios radioativos);
* a debilitação das Forças Armadas, tanto por crescentes restrições orçamentárias, como pelo desmantelamento dos seus programas de tecnologias avançadas, como ocorreu de forma destacada no Brasil e na Argentina, entre outros países;
* a imposição de um regime de "apartheid tecnológico" a esses países, sob o pretexto da não-proliferação de tecnologias de uso dual, como nas áreas nuclear e aeroespacial, por meio de acordos multilaterais discriminatórios, a exemplo do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares (TNP), o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis e outros.
Especificamente na área ambiental, esse impulso se direcionou para a imposição da falaciosa agenda malthusiana que está por trás do discurso ambientalista, cujo objetivo maldisfarçado é a limitação da industrialização e do desenvolvimento socioeconômico do planeta nos níveis atuais, cuja iniqüidade e injustiça são flagrantes.
Exemplares desse enfoque são os acordos internacionais que têm sido estabelecidos sob falsos pretextos ambientais, para restringir determinadas tecnologias consagradas e já de domínio público, como os clorofluorcarbonos (CFCs) e, até mesmo, a expansão da utilização dos combustíveis fósseis, que respondem por três quartos da energia primária consumida pela Humanidade e dois terços da geração de eletricidade em todo o mundo.
O caso dos CFCs é emblemático, pois toda uma família de compostos químicos com centenas de aplicações industriais e domésticas, já dominada por dúzias de países em desenvolvimento, teve a sua fabricação e utilizações banidas pelo Protocolo de Montreal de 1990, alegadamente, para proteger a camada de ozônio estratosférico daqueles produtos, que, supostamente, a destruiriam. Embora o fenômeno do chamado "buraco" na camada de ozônio seja conhecido da ciência desde a década de 1920, antes que tais produtos tenham sido sequer inventados, o Protocolo de Montreal foi imposto a todo o mundo e serviu de modelo para o ainda mais deletério Protocolo de Kyoto, com o qual se pretende fundamentar uma agenda global de restrições dos usos dos combustíveis fósseis, cujo impacto para a economia mundial é fácil de se prognosticar.
Além de tais acordos internacionais, semelhante inclinação anti-humana se torna evidente pelo exame superficial dos documentos básicos da estratégia, como o famigerado relatório NSSM-200, publicado em 1974 pelo Conselho de Segurança Nacional dos EUA, então dirigido por Henry Kissinger, que explicitava a intenção do Establishment estadunidense de obstaculizar a expansão demográfica de 13 países-chave ricos em recursos naturais, entre os quais o Brasil, com o intuito de "preservar" tais recursos para assegurar a prosperidade dos EUA e seus aliados.
Para o Brasil, essa estratégia teve uma série de desdobramentos na agenda ambientalista-indigenista voltada para manter a Amazônia como um vácuo demográfico e uma vasta "reserva natural" impermeável ao desenvolvimento. Conseqüentemente, os projetos de infra-estrutura energética e viária pretendidos para a região passaram a ser alvos prioritários das campanhas de uma pletora de ONGs muito bem financiadas por fundações e empresas privadas e órgãos governamentais, como a Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID) e outras.
Um exemplo didático dessas ações intervencionistas é a chamada Iniciativa para a Conservação da Bacia Amazônica (ABCI, sigla em inglês), lançada pela USAID em meados de 2005, com o propósito explícito de 1512 usaidcoordenar as ações de diversas ONGs ambientalistas e indigenistas nacionais e estrangeiras, provendo-as dos recursos financeiros e instrumentos de "governança ambiental" para o controle de fato da região.
A "governança ambiental" não passa de uma derivada do conceito de "soberania efetiva", apresentado pelo então secretário de Defesa Donald Rumsfeld, na V Conferência de Ministros da Defesa das Américas, em Santiago do Chile, em 2002, com o qual pretendia justificar, por motivos quaisquer, intervenções externas em áreas onde os Estados nacionais não pudessem exercer um pleno controle territorial.
A intenção evidente era a de recrutar povos indígenas, "populações tradicionais" e ONGs, para criar uma rede de intervenção que em nada difere de um exército irregular de ocupação a serviço de um esquema de "governo mundial" controlado por grupos hegemônicos do Establishment anglo-americano. Nesse contexto, a ação da USAID reforça as intensas atividades de ONGs como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), Survival International, Conservation International, The Nature Conservancy, International Rivers Network, Imazon e outras, financiadas tanto pela própria USAID como por agências governamentais do Canadá, Reino Unido, Holanda e outros países europeus, além de fundações familiares do Establishment.
Essa estratégia intervencionista para interferir nas políticas internas de um país como o Brasil, com uma eficácia muito maior do que seria possível com uma intervenção militar clássica, configura uma autêntica estratégia de guerra irregular, ou, como chamam alguns autores, "guerra de quarta geração", na qual um Estado nacional soberano se vê confrontado por agentes não-estatais – embora, no caso, a serviço de uma agenda apoiada por Estados estrangeiros.
Em maio de 2007, denúncia da ABCI feita por este autor nas publicações do Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa) ensejou uma oportuna intervenção do Ministério da Defesa e do Itamaraty, que determinou à USAID a suspensão momentânea do projeto. Entretanto, sabe-se que ele prossegue sob outras formas, com alguns dos seus programas tendo sido transferidos para certas ONGs do aparato ambientalista-indigenista.
Não obstante, os fatos tiveram grande repercussão, levando o então correspondente do New York Times no Brasil, o conhecido e controvertido Larry Rohter, a escrever uma grande reportagem sobre as reações brasileiras a tais ingerências externas na Amazônia, publicada em 27 de julho de 2007, na qual me entrevistou e citou o nosso livro Máfia Verde como um dos documentos que está contribuindo para esse esforço.
Nesse mesmo contexto, foi mais que oportuna a recente divulgação, nos próprios EUA, da notícia de que a USAID financiava operações de inteligência do governo estadunidense em vários países, confirmando o que há muito se suspeitava nestes últimos. Não por acaso, a agência era uma integrante fundamental do esquema delineado no mencionado relatório NSSM-200.
Limites da estratégia hegemônica global
Hoje, estamos presenciando o rápido enfraquecimento dessa estratégia hegemônica global, que atingiu, visivelmente, os limites de sustentabilidade e permanência de três dos seus pilares principais:
1) a instabilidade intrínseca do sistema financeiro internacional "globalizado" e desregulamentado;
2) a crescente inviabilidade do uso da força militar como instrumento de política externa e dominação territorial, como se vê no Afeganistão e no Iraque; e
3) o descrédito das falácias ambientalistas neomalthusianas, cujos impactos socioeconômicos são cada vez mais evidentes e questionados.
Todos esses processos configuram uma crise estrutural de um sistema hegemônico idealizado na virada do século XIX para o XX, após a crise da libra esterlina de 1890 e a Guerra dos Boers, que assinalaram as limitações do imperialismo clássico e motivaram uma reconfiguração do Império Britânico em uma aliança com os EUA, já então a grande potência industrial e econômica do planeta. Daí surgiu a criação do Sistema da Reserva Federal, o banco central privado dos EUA, em 1913, hoje no centro da crise financeira global e, logo após a I Guerra Mundial, do Real Instituto de Relações Internacionais (RIIA), em Londres, e do Conselho de Relações Exteriores (CFR), em Nova York, como centros de coordenação das diretrizes e ações daqueles grupos transatlânticos.
O que mais tarde viria a ser o movimento ambientalista tem as suas raízes no movimento eugênico ou de melhoramento racial, estabelecido nas últimas décadas do século XIX, a partir da aplicação às sociedades humanas dos conceitos darwinistas da "sobrevivência dos mais aptos" no contexto evolucionário. Aqui, é significativo que as mesmas famílias oligárquicas dos dois lados do Atlântico que financiavam e promoviam a eugenia se converteram rapidamente ao ambientalismo, como se observa na sua presença nas origens e nas cúpulas dirigentes das principais ONGs internacionais hoje dedicadas às causas "verdes", como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o Worldwatch Institute, o World Resources Institute e muitas outras.
Uma entidade fundamental para esse esforço é o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), criado em 1937 por representantes de algumas das famílias oligárquicas mais graduadas do Establishment anglo-americano. Apesar do nome enganoso, o CMI não passa de uma fachada para apoiar uma pletora de ONGs e movimentos alegadamente religiosos ou sociais, que atuam como massas de manobra contra os Estados nacionais em campanhas de grande apelo junto à opinião pública, como a luta pela terra, o desarmamento civil e outras. O caráter da entidade pode ser avaliado pelo título de um dos trabalhos discutidos na sua assembléia de fundação: "A influência demoníaca do Estado nacional."
Todo esse processo de reconfiguração imperial sofreu uma interrupção com a Grande Depressão da década de 1930 e a ascensão de Franklin Roosevelt à Presidência dos EUA. Com o seu New Deal e a posterior preparação econômica dos EUA para a II Guerra Mundial, Roosevelt criou condições para a superação do modelo imperial britânico após o conflito, como deixou claro ao seu parceiro-rival, o primeiro-ministro Winston Churchill, nos vários encontros que mantiveram para estabelecer a estratégia de guerra, fatos relatados pelo filho de Roosevelt, Elliott, que foi testemunha ocular daquelas reuniões.
Desafortunadamente, a morte de Roosevelt, em abril de 1945, proporcionou a substituição imediata das suas propostas para o pós-guerra pela lógica insana da Guerra Fria, que transformou o ex-aliado soviético no inimigo existencial e criou uma imagem do próprio Roosevelt como socialista e suas políticas pró-industriais e anticoloniais como inclinações ao comunismo.
A "lógica" da Guerra Fria era a do estabelecimento de um condomínio de poder global entre dois poderes neocoloniais, cuja inviabilidade intrínseca ficou evidenciada, primeiro, em 1989, com a queda do Muro de Berlim, e na atualidade, com a derrocada do sistema financeiro "globalizado" e os limites da força militar como instrumento hegemônico.
Apesar disso, as necessidades de reconstrução do pós-guerra, o impulso anticolonial e o sistema monetário e financeiro estabelecido na Conferência de Bretton Woods proporcionaram ao mundo as duas décadas e meia de maior desenvolvimento até hoje registrado pela Humanidade, deflagrando uma vigorosa onda de otimismo por todo o mundo. Nesse contexto, não havia espaço para qualquer proposta que considerasse o desenvolvimento humano como subordinado a requisitos artificiais e anticientíficos de "proteção" da natureza.
Nesse quadro, não foi coincidência que, no início da década de 1970, o movimento ambientalista-indigenista emergisse com grande força, em paralelo com o desmantelamento do sistema de Bretton Woods, que abriu caminho para a transformação do sistema financeiro internacional em um virtual cassino especulativo global, cada vez mais desvinculado da economia produtiva real.
O conceito de ONG foi desenvolvido dentro da Fundação da Comunidade Britânica (Commonwealth Foundation), criada em 1966, com o propósito explícito de desconstruir os Estados nacionais. Um documento da entidade afirma, de forma emblemática:
"A explosão das ONGs pode ser vista como manifestação de um novo pensamento sobre o papel do governo, que deve ser mais um gestor de políticas do que fornecedor de bens e serviços. Assim, os governos se voltam mais e mais para as ONGs... A privatização, a descentralização e a localização constituem manifestações paralelas da mesma tendência geral."
Assim, as agências de desenvolvimento de governos europeus, EUA e Canadá e organismos multilaterais, como o Banco Mundial e outros, passaram a alimentar uma rede internacional de ONGs, ao mesmo tempo em que exigiam medidas que representavam o enfraquecimento dos Estados nacionais. Como resultado desse processo, tais organismos reduziram os financiamentos para programas de desenvolvimento nos países subdesenvolvidos, passando a transferir, crescentemente, recursos para ONGs internacionais, cujos dirigentes são, com freqüência, intercambiáveis com as próprias agências governamentais e organismos das Nações Unidas, configurando uma autêntica "burocracia de governança global".
Segundo um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em meados da década de 1990, cerca de 250 milhões de pessoas em todo o mundo se encontravam sob a influência direta de ONGs, número que viria a crescer exponencialmente na década seguinte.
Deve-se reiterar que a explosão de ONGs e o seu controle crescente sobre as populações nacionais não se teria produzido sem a simultânea debilitação dos Estados nacionais soberanos e suas instituições, por meio de cortes WWForçamentários tão drásticos como desastrosos em suas políticas econômicas e sociais, ditados pela orientação neoliberal imposta de forma centralizada pelos organismos multilaterais.
A despeito dessa multiplicação de ONGs em todo o mundo, existe uma elite de algumas poucas dúzias delas (WWF, UICN, World Resources Institute etc.), cujo controle é exercido diretamente por famílias oligárquicas da América do Norte e Europa, as quais determinam as diretrizes e os programas a serem cumpridos pelas redes internacionais, ao mesmo tempo em que centralizam a maior parte dos recursos provenientes das agências governamentais e fundações privadas. Em vários casos, elas operam em coordenação com agências de inteligência oficiais e privadas que respondem à estrutura do poder oligárquico, como vimos no caso da USAID.
A proliferação de ONGs tem sido auxiliada pelo advento da Internet, a qual tem facilitado a realização de operações de desestabilização política, manipulação da opinião pública, promoção de rebeliões etc. Tais fatos têm sido constatados em vários movimentos "democráticos" em países da Europa Oriental e na própria Rússia, o que levou o presidente Vladimir Putin a estabelecer uma rígida legislação para enquadrar as ONGs que atuam no país.
O ambientalismo como 'guerra irregular'
O Brasil passou a ocupar uma posição privilegiada nessa estratégia de guerra irregular a partir do final da década de 1980, após o assassinato de Chico Mendes, cuja transformação em um fato de proporções mundiais constituiu uma evidência cabal da intenção de apresentar o País como o "vilão ambiental número um" do planeta. Em seguida, o Brasil se viu no centro de uma inédita campanha internacional de "preocupações" com a Amazônia, em particular, cuja devastação passou a ser apresentada como iminente à opinião pública mundial, acompanhada de fortes pressões políticas e diplomáticas para que o País aceitasse os princípios de "soberania restrita" sobre a região.
Nessa estratégia de "quarta geração", um modus operandi começou a se evidenciar.
Primeiro, os meios de comunicação internacionais desfecham uma poderosa barragem de fatos sensacionalistas, desfechando um "bombardeio de saturação" sobre a opinião pública – desafortunadamente, com o apoio freqüente e acrítico da mídia nacional.
Em seguida, entram as ONGs como autênticas "forças de ocupação" territorial, ao interferir diretamente nas políticas governamentais referentes à definição de grandes reservas naturais e indígenas e, igualmente, promovendo ruidosas campanhas de propaganda contra projetos de infra-estrutura energética e viária, além de tecnologias de ponta (energia nuclear, biotecnologia etc.).
Aqui, é preciso prestar atenção a uma insidiosa tática de desinformação e descrédito da oposição potencial a tal ofensiva, que é a disseminação – principalmente, pela Internet – de textos, mapas e outros documentos apócrifos que, supostamente, explicitariam as intenções daquele aparato quanto ao controle territorial de grande parte do Brasil. Cito apenas dois, que têm enganado algumas pessoas de boa fé: um suposto livro de Geografia estadunidense, que mostraria a Amazônia como submetida a um controle internacional, cheio de absurdos e com um inglês repleto de erros; e um mapa da América do Sul fatiada entre potências européias, elaborado por um hipotético oficial da Marinha dos EUA no início do século XIX, que, na verdade, é uma ilustração de um divertido livro de ficção histórica chamado O dia em que Napoleão fugiu de Santa Helena, escrito há alguns anos pelo escritor gaúcho Fernando Sampaio.
Nesse processo, facilitado pela tibieza de sucessivos governos nacionais diante de tais pressões, o aparato ambientalista-indigenista conseguiu fincar uma sólida cabeça-de-ponte no Ministério do Meio Ambiente e órgãos correlatos, cujos principais postos de direção têm sido ocupados por representantes diretos de ONGs como o WWF, Greenpeace, Instituto Socioambiental, SOS Mata Atlântica, IMAZON e outras. Por isso, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sabia do que falava quando se referiu às ONGs como "organizações neogovernamentais".
Um evento definidor da campanha foi o Encontro de Altamira, um conclave que reuniu centenas de militantes 1512 facaambientalistas e indigenistas de vários países das Américas e da Europa naquela cidade paraense, em fevereiro de 1989. Na ocasião, foi estabelecida uma agenda de ações contra os grandes projetos de infra-estrutura então planejados para a Amazônia. A imagem internacional do evento foi a amplamente divulgada fotografia do então diretor da Eletronorte e atual presidente da Eletrobrás, Antônio Muniz Lopes, sendo interpelado por uma índia caiapó que lhe esfregava um facão no rosto. Para o País produtivo, o resultado pode ser sintetizado na oportuna expressão do ex-deputado Antônio Feijão – "do facão ao apagão" -, pois as usinas hidrelétricas que deixaram de ser construídas como resultado da campanha, em particular a de Belo Monte, no rio Xingu, fizeram muita falta no racionamento de energia de 2000-2001, cujos custos ainda estão sendo pagos.
Outro fato crucial da campanha foi a vergonhosa delimitação da reserva indígena ianomâmi, na fronteira com a Venezuela, realizada pelo Governo Collor como uma oferenda prévia à realização da conferência internacional Rio-92, para a qual o Governo Sarney se candidatou com a intenção de diminuir as pressões internacionais.
Neste momento, estamos às voltas com o prosseguimento desse esforço, com a delimitação em área contínua da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, processo iniciado no Governo FHC e sancionado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o justificou publicamente como uma intenção de atender a exigências externas.
Uma breve listagem dos principais alvos do aparato ambientalista-indigenista dá a dimensão dos prejuízos experimentados pelo País com tais campanhas:
* a usina hidrelétrica de Belo Monte (ex-Cararaô), no rio Xingu (PA);
* o Complexo Hidrelétrico-Hidroviário do Rio Madeira;
* a conclusão do asfaltamento da rodovia BR-163 e de várias rodovias estaduais;
* as hidrovias Araguaia-Tocantins, Tapajós-Teles Pires e Paraguai-Paraná;
* o prosseguimento do programa nuclear, em especial a conclusão da usina Angra-3;
* o desenvolvimento de organismos geneticamente modificados (transgênicos);
* a expansão da indústria agroflorestal.
Outra manifestação recente e didática do mesmo modus operandi foi o assassinato da missionária Dorothy Stang, em fevereiro de 2005, o qual motivou um imediato "pacote verde" do Governo Federal, que implicou na virtual esterilização de mais de 12 milhões de hectares de terras no Estado do Pará, sem qualquer consideração ou discussão com as populações diretamente afetadas. Os atuais conflitos que afligem a região têm muito a ver com a virtual criminalização de setores produtivos como o agropecuário e o madeireiro.
O estado de espírito do aparato ambientalista encastelado no Governo Federal ficou manifestado pelas ultrajantes declarações da ministra do Meio Ambiente Marina Silva, logo após o lamentável acontecimento:
"Os madeireiros não são pessoas de bem, são escórias que vêm de várias partes do País. Digo isto porque não é justo dizer que são mineiros ou paulistas, são pessoas muito barra pesada, que usam a lei do gatilho e afrontam o Estado (Folha de S. Paulo, 14/02/2005)."
Essa atitude de criminalização de setores produtivos é, precisamente, uma das principais causas do fracasso da política de utilizar os índices de desmatamento como evidências de "bom comportamento" ambiental do Brasil, à qual a ministra Marina Silva tem se aferrado.
Amazônia Industrial
A essa altura, deve ser evidente que semelhantes "ameaças de quarta geração" não podem ser enfrentadas por meios militares clássicos, o que não quer dizer que as Forças Armadas devam ficar ausentes da resposta a elas, muito pelo contrário. Mas o fato é que a batalha crucial deve ser travada no terreno da inteligência, tomando-se a expressão no sentido mais amplo, tanto de inteligência tática, no sentido de conhecer as intenções do adversário, como de inteligência estratégica, referente às idéias mais profundas que precisamos contrapor às concepções malthusianas e misantrópicas que fundamentam a agenda ambientalista-indigenista.
Da mesma forma, é preciso tomar cuidado para não se cometer o equívoco de abordar o fenômeno com uma "mentalidade da Guerra Fria", como a tentativa de relacionar o MST e movimentos similares como insurgências "comunistas", pois, embora as suas lideranças compartilhem realmente uma ideologia marxista, já vimos que esses grupos são ativos instrumentos de uma agenda neocolonial muito mais ligada aos círculos controladores do Conselho Mundial de Igrejas do que a Moscou ou Havana.
Felizmente, o crescente descrédito do catastrofismo ambientalista, que é perceptível em todo o mundo e já começa a ganhar espaço na mídia, abre uma janela de oportunidade para que se possa contrapor a essa visão negativa um conceito cientificamente embasado, que subordine as preocupações com o meio ambiente aos requisitos de bem-estar e progresso da Humanidade, e não o oposto, como propõe a ideologia anticientífica dos "verdes".
Com essa concepção, não se pode, por exemplo, pensar em manter a Amazônia como uma espécie de "África neocolonial", que é a proposta do aparato ambientalista-indigenista, ou seja, com populações vivendo à margem da civilização em atividades econômicas pré-neolíticas (como o extrativismo vegetal), salpicada de grandes reservas naturais e indígenas, em número e extensão muito além das necessidades reais ditadas por critérios científicos e de proteção real das comunidades indígenas.
Ao contrário, é preciso promover e implementar o que se pode chamar a "Amazônia Industrial", com o estabelecimento de uma economia moderna e industrializada na região, criando-se "corredores de desenvolvimento" em torno de alguns eixos prioritários de infra-estrutura energética e viária, possibilitando não apenas uma agregação de valor em grande escala aos recursos naturais da região, mas também a atração de indústrias modernas de fora dela. Evidentemente, isso irá requerer um grande esforço de capacitação da força de trabalho da região para atividades econômicas modernas, o que, por sua vez, exigirá uma considerável sinergia entre as administrações públicas, a iniciativa privada e a sociedade em geral.
Além disso, não se poderá exercer o domínio soberano e racional da Região Amazônica criminalizando os setores produtivos, como vêm fazendo as autoridades ambientais federais. De fato, constitui um pré-requisito para uma ação bem-sucedida do Estado brasileiro mobilizar como aliados tais setores, que hoje se acham bastante desarticulados entre si.
Se essa idéia de uma "Amazônia Industrial" soa inicialmente estranha, isto se deve exatamente à extensão em que o discurso catastrofista dos ambientalistas radicais consegue penetrar nas mentes de um grande número de pessoas, mesmo entre as bem educadas e informadas. Por isso, é preciso um grande empenho na denúncia e na desmistificação desse discurso falacioso.
Aqui, aproveito para fazer um pouco de propaganda, pois é exatamente nessa área que o Movimento de Solidariedade Ibero-americana (MSIa), entidade que represento neste seminário, tem se empenhado em contribuir, principalmente com uma série de publicações que têm abordado todos os aspectos relevantes da questão. Entre elas, quero destacar:
* o livro Máfia Verde: o ambientalismo a serviço do Governo Mundial, do qual fui coordenador editorial, lançado em 2001 e já na 11ª. edição, com 18.000 exemplares vendidos;
* a sua continuação, Máfia Verde 2: ambientalismo, novo colonialismo , do qual sou co-autor, lançado em 2005, atualmente na 3ª. edição, com mais de 12.000 exemplares vendidos;
* o livro Uma demão de verde: os laços entre grupos ambientais, governos e grandes negócios, da jornalista canadense Elaine Dewar, que fez uma magnífica investigação sobre os bastidores do aparato ambientalista-indigenista - a edição lançada por nós no ano passado, que já está quase esgotada, foi a primeira do livro fora do Canadá;
* o livro A hora das hidrovias: estradas para o futuro do Brasil, que está no prelo, um autêntico "panfleto" sobre o papel da infra-estrutura de transportes moderna no desenvolvimento e integração de todas as regiões do Brasil;
* numerosas edições especiais do jornal Solidariedade Ibero-americana, compreendendo centenas de milhares de exemplares ("Roraima no centro da internacionalização da Amazônia", "A Amazônia já era nossa", "O Complexo do Rio Madeira e a Amazônia Industrial", "A USAID e a Amazônia", "A Batalha de Roraima" etc.);
* e, finalmente, o boletim de inteligência semanal Alerta Científico e Ambiental, que publicamos há 15 anos, especializado no acompanhamento das ações do aparato ambientalista-indigenista, principalmente no Brasil.
Não cito esses números como um cartão-de-visitas comercial, mas como evidências da conscientização crescente que vem ocorrendo em diversos setores da sociedade sobre a verdadeira agenda do movimento ambientalista-indigenista.
Para finalizar, quero destacar duas importantes inspirações vindas da Rússia para esse esforço que precisamos empreender em favor de uma agenda de reconstrução do Estado nacional brasileiro, uma no campo científico e outra na esfera política.
A primeira é contribuição do grande cientista russo-ucraniano Vladimir Vernadski (1863-1945), que elaborou a mais rigorosa formulação científica sobre as interações entre o mundo físico e os seres vivos, em geral, e a Humanidade, em particular. Na concepção de Vernadski, o trabalho e o pensamento científico da Humanidade estão transformando a biosfera, ou esfera da vida, na noosfera, ou esfera da razão, que passa a ser o "motor" das transformações que ocorrem no nosso planeta. Nessa concepção, que contrasta drasticamente com a equivalência que os "verdes" fazem da espécie humana com os demais seres vivos, empreendimentos como os grandes projetos de infra-estrutura não são vistos primariamente como fontes de impactos ambientais, mas como elementos cruciais para o desenvolvimento da biosfera-noosfera a níveis superiores de organização.
Desafortunadamente, a obra de Vernadski e sua escola científica ainda é quase desconhecida no Ocidente e poucas de suas obras foram traduzidas para idiomas que nos são mais familiares - até hoje, nenhuma delas foi publicada em português.
O outro exemplo vem do ex-presidente Vladimir Putin, que dirigiu o seu país em dois mandatos durante um período crítico de reconstrução nacional, depois de quase uma década da devastação socioeconômica ocorrida após a implosão da União Soviética e o advento do catastrófico governo de Boris Yeltsin e seus cúmplices oligárquicos dentro e fora do país. Embora seja muito criticado no Ocidente, principalmente na Europa e nos EUA, ora por ignorância, ora por má-fé, Putin teve inegavelmente um grande mérito, o de reunificar as forças progressistas nacionais – ou, se preferirem, as elites - em torno de um propósito comum de reconstruir o Estado nacional e devolver à grande maioria da população a auto-estima e a confiança no futuro, que haviam sido dilapidadas durante toda a década passada.
Nesse processo, é de suma relevância que ele tenha tido a coragem de enquadrar as ONGs estrangeiras e suas contrapartes nacionais que atuam no país em benefício daquela agenda externa anteriormente mencionada. Da mesma forma, ele não teve melindres em apontar Londres como a principal fonte dessa agenda desestabilizadora. Tanto uma como a outra medida deveriam servir-nos de exemplo de como deve atuar um verdadeiro estadista na defesa de sua nação.
A propósito desse tema, há um importante livro recém-publicado e cuja leitura recomendo, do diplomata Roberto Colin, atual ministro-conselheiro da embaixada brasileira em "Berlim - Rússia: o ressurgimento da grande potência" (Editora Letras Brasileiras).
Para o Brasil, esse é seguramente o maior desafio de hoje: unificar as elites nacionais em torno de uma visão compartilhada de futuro. Quem conhece um pouco a história deste País sabe que esse é um dos principais motivos pelos quais ele ainda não conseguiu superar os seus grandes contrastes de desenvolvimento e ocupar, definitivamente, o lugar que lhe cabe no cenário global como uma grande potência consagrada ao bem comum, tanto interna como externamente. Mas, como um mexicano que adotou o Brasil como lar e como trincheira, posso constatar que um número cada vez maior de brasileiros está se empenhando nesse bom combate. E este seminário é uma prova disso.
Muito obrigado.