quinta-feira, janeiro 31, 2008

Vale confirma usina de US$ 2,4 bi na Colômbia

O presidente da Vale do rio Doce, Roger Agnelli, visitou na terça-feira o presidente da Colômbia, Alvaro Uribe, e anunciou intenção da mineradora de investir no país, principalmente na geração de energia. Segundo informou ontem Uribe, a Vale se comprometeu a fazer investimentos de US$ 5,9 bilhões, conforme noticias veiculadas, destacando uma fundição de alumínio, de US$ 3,5 bilhões; uma hidrelétrica, de US$ 2,4 bilhões para geração de 1,500 Megawatts e um porto. A assessoria da Vale confirmou apenas que a empresa está estudando o projeto da hidrelétrica.

A Vale busca acesso a energia a baixo custo para viabilizar negócios minerais no Norte do país, como os projetos de expansão de alumínio e de níquel, intensivos em eletricidade. Por essa razão, a empresa faz estudos para participar do projeto da usina de Ituango, na província colombiana de Antioquia, cuja capital é Medelín, informou a assessoria da mineradora, que ressaltou não haver ainda uma negociação fechado na Colômbia.

Uribe ao discursar em ato oficial em Bogotá, do qual participaram Agnelli e outros executivos da Vale, citou Lula e disse que a mineradora brasileira "é uma empresa grande que se chama Vale do Rio Doce" e "quer construir uma capacidade de geração de energia na Colômbia". Ele destacou ainda, que "ela quer instalar uma unidade de alumínio, para gerar empregos muito importantes em número e qualidade, que vale US$ 3,5 bilhões, e querem instalar um porto de apoio".

A Vale não quis comentar nem dar detalhes sobre da fundição de alumínio e nem sobre o porto. Mas, a instalação pela Vale de uma fundição do metal na Colômbia, com energia barata, faz sentido, pois isso viabilizaria o processamento da alumina produzida por ela na Alunorte, no Pará. No ano passado, a Vale anunciou novo investimento em sociedade com a norueguesa Hydro, de 7,4 milhões de toneladas ao ano até 2011.

O item de maior custo para fazer alumínio é a energia e Agnelli tem reclamado da dificuldade de se fazer novas hidrelétricas no Brasil.

Os dois projetos de níquel, de Onça Puma e de Vermelho, no Pará, que usam muita energia, já prevêem unidades de produção do concentrado de níquel junto às minas. Quando Onça Puma entrar em operação, no início de 2009, estará produzindo 58 mil toneladas anuais de níquel contido em ferro-níquel. O investimento em Onça Puma é de US$ 1,395 bilhão. O projeto de níquel de Vermelho está orçado em US$ 1,9 bilhão, com previsão para 2012.
Fonte: Valor

Vale já tem como fazer oferta pela Xstrata

A oferta de aquisição da Xstrata pela Vale do Rio Doce tem condições técnicas de ser feita já a partir de hoje, mas é provável que só venha a ser formalizada na próxima semana, de acordo com fontes envolvidas na negociação. Segundo uma delas, todo o pacote de financiamento de até US$ 50 bilhões está pronto e os trâmites necessários, concluídos. Resta apenas resolver a questão política, especialmente a resistência de setores do governo em relação à fatia que a maior empresa mundial de commodities, a Glencore, poderá vir a ter no capital total da Vale/Xstrata, caso aceite como pagamento ações preferenciais da brasileira.

A Glencore é a maior acionista da Xstrata, com 34,5% do capital. Se a empresa aceitar receber todo o seu pagamento em ações da Vale, passará a ser a maior acionista da companhia brasileira, embora sem participação no bloco de controle. Se receber proporcionalmente (parte em dinheiro, parte em ações), será a segunda maior, atrás apenas da Previ.

Outros temores de pessoas próximas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva referem-se ao fato de que a Vale, se adquirir a Xstrata, passará a ter mais da metade de suas jazidas no exterior (o que aumentará os investimentos da companhia no mercado internacional) e à questão da desaceleração econômica mundial, que poderia afetar os preços das commodities e, por tabela, das mineradoras.

Para um executivo do setor financeiro, entretanto, é preciso ler os sinais. "O presidente Lula não iria se expor nesse caso. Ele não iria ter um jantar reservado com o Roger (Agnelli, presidente da Vale) para depois vetar a operação", explicou. Segundo ele, é possível que alguns membros do governo estejam enviando mensagens aos executivos da Vale de forma a fortalecer a posição da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) e do BNDES no bloco de controle.

O Valor apurou que oito bancos já fecharam o pacote de financiamento de US$ 50 bilhões para a Vale, com prazo de cinco anos e condicionado à manutenção do grau de investimento (classificação de risco que indica investimento seguro) pelas agências de rating. Cada um deles deve receber de US$ 6 milhões a US$ 8 milhões como comissão caso a operação seja bem-sucedida, além da rentabilidade do empréstimo.

Tudo conflui para uma iminente concretização da oferta de aquisição da Xstrata, afirma fonte que acompanha as negociações. "A auditoria dos ativos ("due diligence") já teria sido realizada pelo grupo executivo da Vale", afirmou. Um ponto crucial a ser definido ainda, afirma outra fonte, é a megaemissão de ações PNA, de pelo menos US$ 30 bilhões, que a Vale faria para completar o montante de recursos necessários a comprar 100% do capital da mineradora anglo-suíça. A oferta pela Xstrata deverá situar-se entre 43 e 46 libras por ação - total de US$ 83,2 bilhões a US$ 89 bilhões. Ontem, na Bolsa de Londres, o papel encerrou o dia a 37,18 libras, com queda de 0,03%.

Outra possível barreira ao negócio, a concentração das operações de produção de níquel no Canadá em poder de uma única companhia, praticamente estaria descartada. O argumento é que, no início de 2006, as autoridades antitruste dos EUA e da União Européia deram o sinal verde para uma fusão entre a Inco e a Falconbridge. Ambas eram alvo de ofertas hostis: a primeira por Teck Cominco e Phelps Dodge e a segunda pela Xstrata. A Vale entrou na disputa e acabou levando a Inco. A Falconbridge foi parar em mãos da Xstrata no segundo semestre de 2006.

A única exigência feita era a venda da refinaria de níquel da Falconbridge na Noruega, a Nikkelverk, e da unidade de venda de metais produzidos nessa unidade.

Fonte: Valor

terça-feira, janeiro 15, 2008

Os negócios de Daniel Dantas no sul do Pará





Daniel Dantas ergue império da pecuária

Guilherme Manechini

Daniel Dantas está investindo pesadamente na pecuária. Tornaram-se freqüentes nos últimos meses as notícias sobre a incursão do empresário, dono do banco Opportunity, na atividade, e o real tamanho da aposta, concentrada em uma região conhecida por problemas ambientais, impressiona.

Com a maior parte de suas operações no Pará, a Agropecuária Santa Bárbara, na qual o Opportunity tem participação relevante, detém, após apenas três anos de investimentos, o maior rebanho bovino do Brasil e um dos maiores do mundo, segundo analistas. Acostumado a transitar em outros campos, onde colheu altos retornos dos investimentos, polêmicas e processos na Justiça, Dantas é um investidor aplicado. Faz perguntas de veterinário e cobra resultados com argumentos técnicos.

"Ele não participa da parte executiva do dia-a-dia da empresa, mas está constantemente envolvido na estratégia. Já entende muito de gado", diz Carlos Rodenburg, presidente da Agropecuária Santa Bárbara e cunhado do banqueiro. Desde 2005, a atuação discreta - mas acelerada - da empresa nas compras de terras e gado provoca rumores e especulações. Ao Valor, Rodenburg, acompanhado pelos principais diretores da Santa Bárbara, detalhou planos e perspectivas deste que já é apontado como o principal player do ramo.

Segundo os executivos, a especulação de que a empresa tem 1 milhão de cabeças de gado é exagerada. Por enquanto, pois se depender das taxas de nascimento com base no rebanho atual, em mais três anos a marca será superada. No fim de 2007, dois anos depois de tomada a decisão de ingressar na pecuária, a Santa Bárbara abrigava em suas terras 423 mil cabeças de gado, 365% mais que na mesma época de 2006.

As taxas de nascimento para 2008 e 2009 previstas por Rodenburg são de 143 mil e 185 mil, respectivamente. "Isso se não comprarmos nada", diz. E a possibilidade de a empresa não ser compradora neste ano é considerada remota, tendo em vista a agressividade demonstrada nos últimos dois anos. Em 2007, a empresa adquiriu em leilões 4.978 touros da raça nelore. Para fontes da área, com esse apetite a Santa Bárbara ajudou a sustentar o mercado. As compras foram feitas paralelamente àquela que pode ter sido a maior inseminação já realizada no mundo - 42 mil vacas e novilhas durante o ano no total. O segmento, ainda marcado por gestões familiares, encara com ressalvas o avanço da empresa. Fazendeiros chegam inclusive a questionar a viabilidade de um rebanho tão grande.

"Eles têm muito gado para pouca terra", diz um pecuarista do sul do Pará. José Vicente Ferraz, da consultoria AgraFNP, afirma que, hoje, uma empresa com um rebanho bovino de 1 milhão de cabeças é algo sem paralelo no mundo. Ele faz, contudo, uma ressalva comum entre especialistas. "Quando o pasto é novo, há uma capacidade de suporte muito maior. Se [a Santa Bárbara] pretende chegar a 1 milhão de cabeças, não conseguirão atingir isso com as terras atuais".

Para Rodenburg, essa é uma das provas da eficiência da gestão executiva da empresa. "Os fazendeiros tradicionais ficam impressionados. Dizem que temos muito boi e precisamos comprar muita terra. Aí está o diferencial do nosso trabalho. Somos mais produtivos". Conforme os dados fornecidos pelo executivo, a companhia tem, em média, de duas a três cabeças de gado por hectare, mas em algumas fazendas em que o manejo e a infra-estrutura estão aperfeiçoados, o número chega a cinco cabeças por hectare. No total, as terras da Santa Bárbara abrangem cerca de 510 mil hectares - 210 mil de pastagens e 300 mil de reservas -, pouco mais de três vezes o tamanho do município de São Paulo.

Esquadrinhado durante um ano, o sul do Pará é onde se localiza quase toda a produção da Santa Bárbara. Trata-se também da região brasileira em que a pecuária de corte mais avançou nos últimos anos. Em idade de abate, o boi criado ali chega a valer R$ 1 mil. Se a previsão da Santa Bárbara de vender 110 mil cabeças para abate neste ano se confirmar, a receita pode atingir R$ 110 milhões. As condições para a pecuária extensiva são consideradas ideais no sul paraense, com elevados índices de chuvas, luminosidade e fertilidade do solo. Outra característica é a localização estratégica para o escoamento da produção para fora do Brasil por meio dos portos de Itaqui, Barcarena e Belém, além da ferrovia dos Carajás e de duas rodovias que ligam a região à capital do Estado.

Prefeitos, donos de frigoríficos e fornecedores de insumos também comemoram a expansão da pecuária no sul do Pará. Por causa dela, frigoríficos como o Bertin e Minerva, por exemplo, investiram no Estado. José Davi Passos (PT), prefeito de Xinguara, um dos municípios com forte presença da pecuária, incorporou os leilões de gado à sua agenda e demonstra acreditar na atividade. "Xinguara é o único município [da região] com dois frigoríficos. A bacia leiteira também é a maior do país. Podemos ser classificados como a "capital da carne"".

Outros municípios como Eldorado dos Carajás, Redenção, Parauapebas, Marabá, São Félix do Xingu e Santana do Araguaia fazem parte do raio de ação da Santa Bárbara. Todos eles em um terreno minado dos pontos de vista fundiário, trabalhista e ambiental. Para Raimundo Oliveira, superintendente regional do Incra em Marabá (PA), o saldo desta pecuária "extremamente extensiva" são "áreas degradadas, solos empobrecidos e a pecuária demandando cada vez mais terras". Ele afirma que é raro encontrar uma propriedade que obedeça o percentual de 80% de reserva legal estabelecido por lei para a região. "As grandes propriedades continuam em desacordo com a legislação. As mais próximas têm, no máximo, 50% de reservas", diz

Conforme Rodenburg, "invasões e conflitos [no sul do Pará] estão ligados à grilagem. Não sentamos nem para conversar se tiver alguma ilegalidade com a propriedade pretendida. Já a questão do trabalho escravo é uma realidade, mas temos rigor absoluto com a NR31 [normas que regulamentam as leis trabalhistas do setor]". Além do Pará, a empresa tem operações em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. As fazendas localizadas em Campinas (SP) e Uberaba (MG) concentram atividades com tecnologias de inseminação in vitro, clonagem e manejo profilático.

A fazenda Santa Bárbara, embrião da Agropecuária, fica no interior de São Paulo e era encarada como hobby pelo cunhado de Dantas. Em 2001, porém, Rodenburg reiniciou a seleção de nelores na fazenda. Estava dado o primeiro passo da Agropecuária Santa Bárbara. "Nos finais de semana inspecionava o negócio, procurando entender mais o que ocorria e quem eram as pessoas do setor". Segundo ele, nos quatro anos seguintes, não tão bons para a pecuária brasileira, foram feitos estudos com o objetivo de entender os fundamentos econômicos do segmento e embarcar de vez no agronegócio. "Percebemos também, por dados mundiais, como estava a questão do consumo de proteína animal [em ascensão], a situação da Austrália [grande exportador de carne bovina] e os impactos dos casos da doença da "vaca louca" nos Estados Unidos, Canadá e Europa. E entendemos que poderia haver uma oportunidade de negócio", afirma.

Atentos aos avanços da zootecnia e de olho nos efeitos da genética sobre a produtividade, Rodenburg e Dantas, ao mesmo tempo em que estudavam o mercado, trataram de montar um time de especialistas na Santa Bárbara. Lúcio Cornachini, ex-vice-presidente da Lagoa da Serra (companhia com foco em genética), Antonio Augusto Mendes, responsável pelo dia-a-dia das fazendas, e o recém-chegado Ricardo Sacramento, ex-presidente da Telemig Celular, são alguns dos executivos que estão na equipe. A Agropecuária Santa Bárbara é uma sociedade anônima e conta, além da participação do Opportunity, com capital de fundos de investimentos nacionais. Questionado sobre uma eventual abertura de capital ou venda de participação a estrangeiros, o executivo é direto: "Depende de nós querermos".

Terça-feira, 15 de janeiro de 2008 Agronegócios B12

Leite, florestas e energia estão no foco

Apesar da força que já tem na pecuária, o foco da Agropecuária Santa Bárbara é mais amplo. Ao menos quatro negócios, além da criação de gado, estão ocorrendo nos mais de 500 mil hectares de terras que a empresa possui. Produção de leite, reflorestamento, créditos de carbono, geração de energia a partir da biomassa e a instalação de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) são outras frentes de atuação da companhia.

Para a produção de leite, a Santa Bárbara conta com 142 animais da raça Gir como doadores para fecundação in vitro. Contar com frigoríficos também está nos planos, mas não há nada de concreto até o momento, de acordo com Carlos Rodemburg, presidente da empresa. "Está tudo interligado. A criação de gado, o reflorestamento com fins econômicos, créditos de carbono, geração de energia a partir da biomassa e a instalação de PCHs", revela. Segundo ele, o único projeto que deve maturar por mais tempo são as PCHs, que dependem do levantamento de inventários dos rios da região sul do Pará.

No caso da biomassa, o executivo informa que o projeto está em fase de definição da primeira planta. "[A unidade] deverá ter capacidade de gerar em torno de 30 megawatts", estima. O responsável pela divisão de energia da empresa é o ex-presidente da Telemig Celular, Ricardo Sacramento.

Rodemburg aproveita o assunto para frisar o perfil da companhia. "É um negócio altamente sofisticado para qualquer setor". A princípio, os insumos utilizados para a geração de energia serão o capim elefante, eucaliptos e switchgrass (gramínea de crescimento rápido comum nos Estados Unidos).

A aposta em reflorestamento deverá contar com investidores estrangeiros. "Estivemos com o presidente da Fundação Clinton tratando deste assunto", afirma Rodemburg. E acrescenta: "Estamos acompanhando de perto as oportunidades e também preocupados com a questão ambiental".

Terça-feira, 15 de janeiro de 2008 Agronegócios B12

Região é epicentro de irregularidades

Bettina Barros

Ao menos três dos seis municípios onde a Agropecuária Santa Bárbara atua no Pará constarão da lista negra de municípios que mais derrubaram a floresta amazônica nos últimos anos. O documento, em fase de finalização pelo Ministério do Meio Ambiente, é a resposta a um pedido direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, após a divulgação da retomada do desmatamento entre julho e setembro de 2007. O ranking de municípios, que inclui propriedades públicas e privadas, será divulgado entre esta e a próxima semanas.

A lista está sendo guardada a sete chaves. Segundo o Valor apurou, Lula deseja comunicar diretamente os prefeitos dos municípios mencionados em uma reunião em Brasília. Na seqüência será editada a portaria que regulamenta o decreto, assinado pelo presidente em dezembro, para a implementação de ações estratégicas na região.

Eldorado dos Carajás, Redenção, Parauapebas, Marabá, São Félix do Xingu e Santana do Araguaia estão no sudeste do Pará, área onde a floresta foi mais castigada. Não à toa, a região está no chamado "arco do desmatamento", que inclui partes de Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas.

O governo ainda não sabe ao certo quantas cidades serão incluídas, mas olha para dois números importantes: o desmatamento absoluto dos últimos dez anos e o ritmo das derrubadas entre 2005 e 2007. Isso porque não se quer pegar só desmatadores históricos, mas também iniciantes, empolgados com os preços da carne bovina e com a facilidade na grilagem das terras. A intenção é mapear um conjunto de municípios que represente 45% dos desmatamentos ocorridos entre 2006 e 2007.

Um desdobramento imediato será a exigência de recadastramento georreferenciado no Incra das propriedades com desmatamento ilegal. O decreto determina ainda o embargo do uso agropecuário dessas áreas, o cancelamento de registros em órgãos ambientais e a proibição de crédito agropecuário em bancos oficiais. Instituições como o BNDES e IFC (o braço financeiro do Banco Mundial) serão recomendadas a fazer o mesmo.

A gastança sem limites





DORA KRAMER - Dinheiro de ninguém

Como gosta de dizer o presidente Luiz Inácio da Silva, o dado concreto é o seguinte: nenhum setor do governo registra elevação de investimentos que chegue nem perto do aumento de gastos com os cartões de crédito corporativos da Presidência da República e da Esplanada dos Ministérios.

De 2006 para 2007 o incremento foi de 129%, como demonstra levantamento publicado domingo no Estado, com base nos números da Controladoria-Geral da União.

Durante o ano passado, foram R$ 75,6 milhões, dos quais R$ 58,7 milhões (75%) sob a forma de saques diretos nos caixas eletrônicos. Dinheiro vivo, em espécie, de destino questionável.

O volume é significativo, o aumento, espantoso - em 2004 o gasto foi de R$ 14,15 milhões; em 2005, R$ 21,7 milhões; em 2006, R$ 33,027 milhões -, mas, mais significativa que a quantidade é a obscuridade do uso. Parte não se sabe para onde vai, parte não se tem como fiscalizar se foi para onde deveria.

Por exemplo: quando a campeã de gastos em cartões, a ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, apresenta uma conta de R$ 171,5 mil em viagens, aí incluídas despesas com hotéis, restaurantes e aluguéis de carros, não há outro meio, a não ser a palavra dela, de saber se realmente todos os gastos guardaram relação com atividades profissionais.

Ainda que não se duvide da boa-fé da ministra, apresenta-se a impossibilidade de aceitar sem estranheza a justificativa apresentada por sua assessoria: em 2007, ela teve necessidade de “intensificar a relação com os novos governos estaduais e rediscutir políticas de promoção de igualdade racial”. Por isso, viajou mais que em 2006, quando gastou R$ 55,5 mil.

É de se perguntar: e os outros ministros, não tiveram a mesma necessidade de intensificar relações? E de que natureza foram as demandas? Quais as políticas de promoção de igualdade racial rediscutidas com os governos estaduais? Por que a ministra, em cada lugar que chega, precisa de carro alugado com motorista à disposição o dia todo? Por que não anda de táxi? De quantas reuniões em locais diferentes participa por dia?

Os gastos de Matilde Ribeiro chamam mais atenção por causa da desproporcionalidade entre eles, a produção conhecida de sua pasta e o zelo com o dinheiro público que, nesse caso, parece ser nenhum. Ela gastou sete vezes mais que o ministro da Pesca, Altemir Gregolin (R$ 22 mil), segundo colocado no ranking e outro de quem se desconhecem os feitos em prol da Nação.

E assim segue a lista, uns com mais despesas, outros com menos, todas eivadas do vício de origem maior: a liberalidade com um dinheiro tido como “de ninguém”.

O pecado mortal, porém, está naqueles 75% de gastos por meio de saques nos caixas eletrônicos. Pode até ser que os R$ 58 milhões tenham sido gastos com toda a lisura, sem desvio nem deformação alguma. Agora, como conferir se à autoridade é dado o direito sem restrição de sacar em espécie e quanto queira para fazer frente a despesas como bem entenda?

A Presidência da República argumenta que o aumento de 2006 para 2007 se deveu principalmente aos gastos da Agência Brasileira de Informações com os preparativos dos Jogos Pan-Americanos e do Ministério do Planejamento com o censo agropecuário e a contagem populacional de pequenos e médios municípios do IBGE.

Por causa dessas duas ações, os saques em espécie representaram 75% do total das despesas com cartões corporativos.

Muito bem, e no ano anterior, quando não houve censo nem Pan, como se explica que as retiradas em dinheiro tenham sido responsáveis por 63% das faturas dos cartões?

Ao que tudo indica, a explicação se dá pelo pior dos motivos: dificultar a fiscalização da prestação de contas e o exame público do detalhamento dos gastos.

Eles existem em algum lugar da administração. Mas quem tem acesso a eles a não ser o próprio governo, que até hoje não se interessou em render essa homenagem à transparência?

Neste aspecto, o Poder Legislativo não deixa de ter razão quando alega que à exposição de suas contas são feitas exigências que se dispensam ao Poder Executivo.

A verba extra de R$ 15 mil mensais dos deputados já está na internet há dois anos e o Senado agora se prepara - mediante pressão, claro - para fazer o mesmo. Não existe estratégia nem segredo de Estado que justifique o Executivo gastar R$ 75,6 milhões, sendo R$ 58,7 milhões em espécie, sem que a sociedade saiba exatamente em quê.

Nenhum argumento é aceitável, muito menos o recorrente, segundo o qual os cartões são meios ágeis de fazer frente a pequenas despesas. Urge, obviamente, uma correção de métodos. Uma alteração de princípios. Aqueles utilizados nos cartões - a falta de cerimônia com o dinheiro de todos - são os mesmos usados nos notórios convênios de ministérios, cuja execução também faz parte do mistério da volatilidade de verbas, que alarga os ralos e estreita o espaço para cortes na administração pública.

Um novo PT

Dirceu, Lula e a construção de novo partido

Paulo Ghiraldelli Jr. *

Desde 2005 o Partido dos Trabalhadores (PT) não consegue mais passar seis meses sem produzir uma bomba contra si mesmo. Nem bem iniciamos 2008 e petistas, ex-petistas e afluentes despejam água suja uns contra os outros. Com uma entrevista de José Dirceu, o inferno astral desse pessoal foi reavivado.

Essa balbúrdia toda que Zé Dirceu trouxe para a agenda de 2008 é o modo que ele tem de voltar a fazer política. Ele perdeu o que mais amava na vida, o seu mandato. Então, resolveu mostrar aos que ficaram que pode fazer política mesmo sem mandato. Se política é uma atividade baseada na demonstração de força, então Zé Dirceu está certo. Com uma só entrevista ele conseguiu mexer com a direita e com a esquerda.

Zé Dirceu sabe que a direita política brasileira está resumida a alguns jornalistas, e não mais que isso. Políticos profissionais ideologicamente de direita são poucos. No jogo ideológico, à direita, o que faz volume são alguns conservadores da mídia. Esses jornalistas estão sedentos por noticiar algo que sirva para dizerem: “Vejam como o que eu dizia era verdade.” E gente assim é facilmente manipulável. A direita jornalística caiu de quatro diante de Zé Dirceu. Agiu exatamente como ele queria. Fez o barulho que ele queria que fizesse e lhe deu força, novamente, contra a esquerda - atingindo em cheio a então senadora que foi candidata à Presidência, Heloísa Helena - e contra o governo, tirando o sono de Lula. E assim o velho Zé começou 2008 nas manchetes, novamente.

Zé Dirceu é um “animal político”. Ele raciocina segundo um único desejo, o de poder continuar nas manchetes, poder mostrar força, demonstrar que não conseguiram tirar-lhe o que ele ama, que é a vida política. O “mensalão” era bem isso: um dinheiro gasto não para comprar congressistas e, então, levar adiante um projeto de governo, mas para comprar congressistas e, assim, ficar no poder para, então, poder comprar mais congressistas e continuar no poder. Ao contrário do que a direita vive proclamando, o projeto associado ao “mensalão” não era guiado pelo lema “os fins justificam os meios”, e sim pela frase “os meios são meios para adquirir mais meios”.

Bem, alguém poderia dizer: “Puxa vida! Como é que um homem como Zé Dirceu não percebeu que tudo aquilo que vinha comandando poderia desmoronar caso Roberto Jefferson levasse adiante as ameaças que vinha fazendo?” Simples: o amor de Zé Dirceu à política é tão grande que ele via como inadmissível uma atitude suicida de Jefferson. Ou seja, sendo político, Jefferson deveria agir como ele, Zé Dirceu, e amar a sobrevivência política. O obcecado Dirceu, todavia, não conseguiu ver que a política pode ser amada de outro modo. Jefferson resolveu simplesmente chegar ao êxtase (político) não pela continuidade. Em determinado momento, Jefferson passou a nutrir por Zé Dirceu um único sentimento: o desejo de derrotar o homem que era o número 1 do presidente Lula, como ele fora o número 1 do presidente Collor. O amor de Roberto Jefferson pela política implicava o suicídio. Zé Dirceu não conseguiu compreender isso e deixou o barco correr. Quando quis reverter o quadro, era tarde.

Mas, e a nós, cidadãos, o que tudo isso importa?

O problema nosso é que, enquanto todos voltam os olhos para Zé Dirceu e sua capacidade de voltar à política sem estar na política, um contingente grande de funcionários de Lula, sem rosto, anda pelo Brasil segundo uma ampliação da burocracia governamental. Professores, advogados, engenheiros, secretários e sindicalistas (muitos), esposas e parentes desse pessoal, etc., há um número grande de pessoas apoiando Lula e o seu desgoverno por uma razão simples: são empregados da máquina estatal. Uns são empregados indiretos, outros estão em cargos de confiança e uns terceiros estão concursados, mas não são efetivos. O PT pode não existir mais, mas Lula vem criando outro partido, o “partido do staff”. Vargas tinha esse esquema: o PTB era para ter força no campo sindical e urbano e o PSD, para organizar a própria máquina estatal, por meio de funcionários e burocratas, e articulá-los com os donos de terras. Donos de terras e funcionários governamentais sempre se deram bem no Brasil.

Essa construção de Lula vai gerar, para o futuro, um grupo de pessoas que não saberemos quem são, mas eles saberão claramente quem são e o que têm de fazer. Nós não saberemos que eles formaram uma “rede de troca de favores”. Mas eles saberão. Permanecerão fiéis a essa rede. A coisa é grande. Desde cargos nas agências de fomento à pesquisa até pequenos empregos na assistência social, Lula tem ampliado o staff direto e indireto, num estilo que lembra Vargas e Brizola: o número de funcionários pouco competentes, que estão sendo contratados (por todos os meios), visa a preencher as fileiras de um exército que deve substituir o que foi a militância do PT.

Nesse sentido, Lula é parecido com Zé Dirceu. O que importa é ficar no poder para ter mais poder. Lula não se vai aposentar quando terminar seu mandato, vai comandar esse segundo “partido” que está montando. Essa nova agremiação terá braços por todos os lados. Em cada casa haverá um “militante” por estar ligado, de alguma forma, à “rede de trocas” gerada durante oito longos anos de gestão Lula. Assim, Lula poderá continuar a fazer política, e de modo mais real que a política de Zé Dirceu. Na verdade, Lula nunca admirou Zé Dirceu. Precisava dele para os discursos, para a linha política do PT, mas Lula se inspira, de verdade, na trajetória de sobrevivência de José Sarney, mas com uma visão de agregar funcionários públicos, como Vargas fez. Fiquem sabendo: nossa máquina estatal não está sendo inchada à toa.

Paulo Ghiraldelli Jr. é filósofo

quinta-feira, janeiro 03, 2008

carajas


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