quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Acéfalo, governo do DF não sabe como será a festa dos 50 anos de fundação de Brasília

E a festa, como vai ficar?

Com a saída de Paulo Octávio do GDF, a comissão que discutia a programação dos 50 anos da capital foi dissolvida. Novos rumos para a comemoração, que já incluiu Madonna e Roberto Carlos nos planos, serão tomados pelo governador interino, Wilson Lima

Após fazer muito barulho e anunciar, entre outros, Roberto Carlos, Madonna, Paul McCartney, Beyoncé e U2, o Governo do Distrito Federal (GDF) praticamente enterrou seus planos ambiciosos para as festividades oficiais dos 50 anos de Brasília. A comissão criada há sete meses para organizar o evento foi dissolvida ontem. Doze dos 20 integrantes concluíram não ter mais o que fazer com a saída de Paulo Octávio (sem partido) do governo. Ele presidia o comitê.

Agora, tudo depende da vontade do governador interino, Wilson Lima (PR), com quem os membros da comissão do cinquentenário pretendem se encontrar hoje. Na reunião, que deve contar com a presença do ex-vice-governador do DF, Paulo Octávio, Lima receberá um relatório dos trabalhos e planos do grupo para a festa. O documento, no entanto, trará uma relação de nomes bem menos badalados do que os anunciados inicialmente como atrações principais para o evento de 21 de abril, data do aniversário da cidade.

No lugar das estrelas internacionais, o comitê vai propor apenas artistas brasileiros. A dupla sertaneja Bruno e Marrone, os meninos do NX Zero e os veteranos dos Paralamas do Sucesso são os principais nomes da lista (veja quadro). Victor e Leo e Chiclete com Banana foram retirados de última hora por terem shows marcados para Brasília em março. Mas não há garantia da apresentação de nenhum grupo musical na Esplanada dos Ministérios no dia dos 50 anos. Isso porque não há verba prevista.

Para a festa de 21 de abril, o comitê estima que sejam necessários mais R$ 12 milhões - além dos cerca de R$ 10 milhões liberados em 2009, incluindo os R$ 3 milhões para a escola carioca de samba Beija-Flor, que teve como enredo o cinquentenário de Brasília. Os R$ 22 milhões totais seriam suficientes para bancar os 55 projetos aprovados pela comissão (livros, exposições, novela, entre outros) e o evento do dia do cinquentenário, que, além dos shows musicais, incluiria competições esportivas, como torneios de vôlei de praia e basquete de rua.

Autorizado

Parte dos projetos foi executado com o dinheiro liberado ano passado, quando o então governador Arruda autorizou R$ 20 milhões para os eventos dos 50 anos. Mas apenas cerca da metade dessa verba acabou destinada aos projetos. "Tem projeto aprovado, de R$ 10 milhões, que inclui R$ 1 milhão do GDF e o restante da iniciativa privada, que está pronto, mas ainda não recebeu a nossa parte. E isso tem que ser resolvido. Essas pessoas não podem tomar calote", afirmou o secretário de Cultura do DF, Silvestre Gorgulho, vice-presidente da comissão do cinquentenário.

Gorgulho pretende participar do encontro de hoje com o novo governador. "Vamos sentar com Wilson Lima e os secretários de Fazenda (André Clemente) e de Planejamento (Ricardo Pena). Eles é que vão bater o martelo. Podem até dizer que não haverá dinheiro. Assim, não haverá festa oficial", afirmou Gorgulho. Sem o comitê, a organização das festividades ficará, a princípio, com a Brasíliatur, a agência de turismo do GDF, controlada politicamente por Paulo Octávio. Ele e o presidente da estatal, João Oliveira, eram colegas de partido até terça-feira, quando Octávio deixou o DEM para evitar a expulsão sumária.

João Oliveira também desfiliou-se ontem do DEM, mas para ficar no governo. "Sou um técnico e tenho um projeto para a cidade, que merece mais que nunca uma festa à altura da sua importância, sua história", ressaltou. O presidente da Brasiliatur disse ainda que a crise política não tira o brilho de uma eventual festa na Esplanada dos Ministérios. "O que tem a ver uma coisa com a outra? Seria o mesmo que cancelarmos a festa de aniversário de uma pessoa por causa de um problema gerado por outras", argumentou. Ele, no entanto, destacou que tudo está nas mãos de Wilson Lima. "O novo governador pode até, por meio de decreto, criar uma nova comissão."

Apesar do otimismo de João Oliveira, o governo local não atualiza o site oficial do cinquentenário (www.brasiliafaz50anos.com.br) há 15 dias. Paulo Octávio não foi encontrado para falar sobre o assunto e Wilson Lima ainda não falou como governador empossado.

BRIGA DE PODER

A ideia de reunir Paul McCartney e Roberto Carlos partiu do ex-vice-governador Paulo Octávio. Ele vinha defendendo o projeto mesmo a contragosto de integrantes do governo - entre eles, Fábio Simão, ex-chefe de gabinete do governador JOSÉ ROBERTO ARRUDA. Simão, que esteve à frente dos showmícios das campanhas de JOSÉ ROBERTO ARRUDA, do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) e do senador cassado Luiz Estevão, também concentrava a organização dos eventos no atual governo, como a festa de inauguração do Estádio Bezerrão, ano passado. Ele ainda acumulava a função de gerente da Copa 2014 em Brasília. Simão acabou afastado do governo após aparecer nas imagens do suposto esquema de propinas.

Memória

Evento grandioso, a princípio

O Governo do Distrito Federal instaurou, em 16 de julho de 2009, a comissão executiva que coordenaria os trabalhos para a festa dos 50 anos de Brasília. A partir de então, toda ação que estivesse relacionada ao cinquentenário passaria pelo crivo do grupo, composto inicialmente por sete integrantes e presidido pelo então vice-governador Paulo Octávio. Eles se reuniriam toda quarta-feira, em um almoço de trabalho na Residência Oficial de Águas Claras.

No primeiro encontro, Paulo Octávio pediu empenho de todos para que a festa fosse a maior que o Brasil já viu. Segundo ele, nove meses era tempo suficiente para se fazer um belo evento na Esplanada dos Ministérios. "O calendário prévio será apresentado nos próximos 20 dias. A partir daí é arregaçar as mangas e trabalhar para que a capital tenha sua maior festa desde a inauguração, em 1960", disse, na época.

Algumas ideias para o cinquentenário foram discutidas de imediato. O lançamento oficial das comemorações da data histórica ocorreu em 12 de setembro, data alusiva ao nascimento do presidente Juscelino Kubitschek. O governo preparou, para isso, uma série de inaugurações de obras e eventos culturais em todas as cidades do Distrito Federal.

O ex-deputado federal Roberto Brant, membro da comissão, sugeriu para 2010 a realização do Fórum Social Mundial em Brasília. Seriam discutidas formas de desenvolvimento sustentável, além de novas ideias que levem à igualdade social. Isso seria feito meses antes da festa com o objetivo de atrair turistas para a capital.

Outra comissão, de caráter consultivo, foi formada e presidida pelo governador JOSÉ ROBERTO ARRUDA. Ela contava com 50 nomes de pessoas representantes de classes e entidades. A ideia era realizar um primeiro encontro desses notáveis já na próxima semana.

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