terça-feira, outubro 28, 2008

Mais e mais poder

Aliança mais cara

Com vitórias nas urnas, líderes do PMDB recusam alinhamento imediato a Lula

Brasília e Porto Alegre — Fortalecidos pelos resultados das eleições municipais, dois líderes do PMDB deixaram claro ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentará dificuldades para convencer o partido a apoiar um candidato do PT na próxima disputa presidencial. Em conversa com o Correio, o presidente do diretório peemedebista no estado de São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, declarou que o ideal para a sigla seria lançar um nome próprio na sucessão. Mas, diante da falta de um quadro reconhecido nacionalmente entre seus filiados, a opção preferencial tem de ser a adesão à possível chapa encabeçada pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB).

“Defendo o apoio ao Serra. O melhor caminho é a alternância de poder. Não será bom para o Brasil o PT continuar no governo”, disse Quércia. A parceria com o tucano foi colocada em prática na corrida pela prefeitura paulistana, quando os dois trabalharam pela vitória do prefeito Gilberto Kassab (DEM) sobre a petista Marta Suplicy. Reeleito em Porto Alegre depois de derrotar a deputada federal Maria do Rosário (PT), José Fogaça (PMDB) reforçou o discurso contrário ao alinhamento automático a Lula em 2010. Na primeira entrevista após a vitória de domingo, afirmou que sua legenda “não pode ficar a reboque” de ninguém nas negociações sobre as eleições presidenciais.

Estratégia
“O partido deve ser protagonista das articulações”, disse Fogaça. Para justificar a tese, lembrou que os peemedebistas conquistaram a maior quantidade de prefeituras no país. O plano do presidente Lula é lançar a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, na corrida pelo Palácio do Planalto. O posto de vice seria ocupado por um peemedebista, como o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Perguntado se considerava Dilma uma boa candidata, Fogaça respondeu que sim, mas ironizou. “Acho a ministra uma excelente candidata, mas as condições políticas são outra coisa. Eu achava a deputada Maria do Rosário uma excelente candidata e concorri contra ela. E ontem votei em mim e não nela.”

Mesmo com a rivalidade local entre PT e PMDB, o prefeito de Porto Alegre não descartou uma aliança nacional entre os dois partidos. Mas impôs condições. “Depende do protagonismo que seja dado ao PMDB e do espaço que o partido tenha na definição das propostas e programas.” O alerta foi acompanhado de uma crítica. “O PT ainda tem a cultura do partido único. Quem não entende que o Brasil é multipartidário e acredita que uma só força possa manter o poder por 20 anos ainda está vivendo no século passado”, arrematou Fogaça.

A luta por espaço entre as duas legendas é um dos principais obstáculos à aliança em 2010. Fogaça, por exemplo, planeja disputar o governo gaúcho com os petistas. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), cogita fazer o mesmo na Bahia, confrontando o atual governador Jaques Wagner (PT). São quedas-de-braço que, se realizadas de forma renhida, podem inviabilizar uma parceria na sucessão presidencial. Essa avaliação é feita por auxiliares de Lula. Também vale para a novela sobre a sucessão na Câmara e no Senado.

Congresso
O PT está disposto a votar no deputado federal Michel Temer (PMDB). Cobra, em contrapartida, ajuda para fazer do senador petista Tião Viana (AC) sucessor de Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). O problema é que a bancada do PMDB no Senado resiste a selar o acordo. O grupo quer algum tipo de compensação por abrir mão da presidência do Senado, acusam os petistas. O pagamento, acrescentam, pode ser o Ministério do Turismo ou mais diretorias em estatais do setor elétrico. “Uma composição com o PMDB tem sempre um grau de dificuldade maior porque eles são uma colcha de retalho, uma confederação de interesses”, disse a líder do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC).

“Eles não têm unidade partidária. No caso da sucessão no Senado, disseram que têm de ter alguma contrapartida. Isso foi explicitado em jantar com o Lula”, acrescentou Ideli. Para o líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), o ideal é que cada partido comande uma das Casas do Congresso, como defende o presidente da República. Alves deixou claro, no entanto, que respeitará a decisão “soberana” de seus colegas senadores. Alinhado ao Planalto, o deputado reafirmou que a maioria do PMDB quer manter a parceria com Lula em 2010.

“É lógico que num partido do tamanho do PMDB não pode haver unanimidade. A aliança com o presidente é o caminho natural, já que participamos do governo com espaços de qualidade”, disse Alves, referindo-se aos seis ministérios sob o guarda-chuva peemedebista. Entre eles Minas e Energia e Saúde.

Fonte: Correio Braziliense.

Nenhum comentário: