quinta-feira, junho 05, 2008

Paulo Pereira da Silva - Culpa de Serra e Kassab

Entrevista concedida à Leandro Colon - Da equipe do jornal Correio Braziliense (05/06/2008)


Deputado diz que a disputa em São Paulo é o motivo das denúncias contra ele e ainda ameaça o PSDB


Alvo de processo por quebra de decoro na Câmara, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) enfim revela quais, na sua opinião, seriam os responsáveis pela pressão que vem sofrendo: grupos do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e do prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab (DEM). Foi o que ele disse ontem em entrevista ao Correio.


Paulinho pode perder o mandato por causa das acusações de ligação com o esquema de desvio de dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para a Polícia Federal, está clara a participação dele no episódio. Ele teria recebido dinheiro da quadrilha que cobrava propina para liberar empréstimos do banco.


Apesar dos indícios da polícia, sua linha de defesa é dizer que seu nome foi usado indevidamente pelos envolvidos no esquema. Ele garante que o caso tomou essa proporção por causa de perseguição política originada numa disputa em São Paulo. Paulinho afirma que sofreu uma investigação clandestina da Polícia Civil paulista em 2007, logo depois de receber em casa o prefeito Kassab para tratar de aliança política. E deixa um mistério no ar. “E não estou querendo falar agora. Se eu falar, cai a República de São Paulo.”


Paulinho fez em18 de outubro uma denúncia ao Ministério Público sobre a ação da Polícia Civil. Ele entregou à reportagem a íntegra desse relato. Segundo o MP, o caso está sendo apurado sob sigilo. E Paulinho confirma: vai se afastar da presidência do diretório do PDT em São Paulo.
“Não estou querendo falar agora. Se eu falar, cai a República de São Paulo”


A PF diz que há uma “clara” participação do senhor no esquema do BNDES. Um ex-assessor seu, João Pedro Moura, foi preso. O senhor falou com o advogado Ricardo Tosto dias depois da Operação Santa Tereza. A polícia cita cheques. Os nomes P.A. e Paulinho aparecem nas escutas. Um e-mail interceptado diz que P.A. é o senhor. Não fica difícil sair dessa cadeia de informações?
O que tem nisso tudo? Uma ligação de uma pessoa, João Pedro, para o Marcos Mantovani (dono da Progus, empresa ligada ao esquema). Essa é a única verdade na história. Ele fala com outra pessoa e cita meu nome. O próprio João Pedro e o Mantovani disseram que usaram meu nome indevidamente.


O João Pedro esteve na Câmara por 39 vezes, sendo 12 vezes no seu gabinete. A PF diz que ele usou um cartão de visitas do seu gabinete. O senhor sabia disso?
Claro que não. Ele inventou o cartão. Falsificou um cartão meu para se apresentar como um assessor.


O senhor tem dito que é vítima de perseguição. Quem faria isso e por que?
Passei a ser o deputado que articula as centrais sindicais. Isso incomoda empresários e políticos.


Da base do governo ou da oposição?
Tem alguns da base, mas é a oposição. Eles me consideram um traidor.


Em São Paulo, o senhor tinha uma ligação próxima com PSDB, hoje se afastou. A investigação da PF foi feita lá. Na sua opinião, o PSDB paulista pode estar por trás disso? São eles que o chamam de traidor?
Eu acho que sim. Mas vou dizer mais. Eu cometi uma falha (de não ter denunciado antes à imprensa) nesse processo todo. Começou com uma investigação sobre mim em São Paulo em setembro no ano passado, achei que era uma tentativa de seqüestro da minha filha. Ela me ligou e disse ‘pai, estou sendo seguida’. E eu falei para ela ir a uma delegacia. Isso foi por volta de setembro. Pensei que fosse seqüestro. Eu pedi para o coronel da Polícia Militar Wilson Consani Júnior verificar. Passaram uns dias, e ele me procurou. E disse: ‘Nós constatamos que é a Polícia Civil’. A polícia tinha uma casa alugada ali perto da sede do PDT, na Vila Mariana. Os caras se identificaram e disseram que quem os mandou foi o alto comando da Polícia Civil. E, para me prevenir, fui ao Ministério Público e dei um depoimento no dia 18 de outubro. E procurei o Lupi (ministro do Trabalho, Carlos Lupi, então presidente do PDT). Ele pediu para eu não denunciar. Não tinha como não falar que era o Serra, a Polícia Civil.


Por que o PSDB teria feito isso?
Nos mantivemos uma independência do PDT em São Paulo. Não compusemos com o Serra para governador, fui candidato a prefeito. Agora eles faziam questão de contar com nosso partido.


Há um dedo do governo estadual nessa história então?
Alguém do governo está nisso. Tentaram o tempo todo controlar o nosso partido. Por isso, enfrentei para retirá-lo da base do Kassab. O Kassab esteve na minha casa duas vezes para dizer que não era candidato, mas queria manter uma boa relação conosco. Eu disse que nossa tendência era ter candidato. Depois disso, teve a perseguição em São Paulo.


E qual a relação disso com as recentes denúncias sobre o BNDES?
Se eu tivesse denunciado (a perseguição de Kassab e Serra), eu falaria tudo o que aconteceu (as conversas com prefeito). E não estou querendo falar agora. Se eu falar, cai a República de São Paulo. Mas, se eu tivesse denunciado, tinha me prevenido dos supostos envolvimentos nessas coisas.


Num telefonema para o Tosto, o senhor fala em pedir esclarecimentos ao presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, e até mesmo em chamar o ministro Tarso Genro para depor. O senhor não foi longe demais? Não foi intimidação?
O que eu falei foi normal. O Ricardo Tosto saiu da PF e foi para casa dele, e eu liguei para dar solidariedade. Ele me disse o que estava acontecendo. Aí eu disse que eu iria falar com as pessoas. O “mexer os pauzinhos” era isso.

Nenhum comentário: