terça-feira, junho 26, 2007

Caso Renan Calheiros: Esquenta debate e tropa de choque quer blindar senador

Caso Renan provoca bate-boca entre aliados e continua sem relator


Maria Lima e Ilimar Franco - O Globo; Agência Brasil; Jornal Hoje

BRASÍLIA - Sem relator desde a semana passada, o processo contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pode provocar também a renúncia do presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), que anda irritado com as pressões que tem sofrido e passou para o PMDB a responsabilidade de indicar o novo relator. Em resposta a Sibá, o líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), afirmou, na tarde desta terça-feira, que não é ele quem deve indicar o relator, iniciando um bate-boca entre os integrantes da base aliada:

- Não vou indicar um relator, na verdade quem nomeia é o presidente do Conselho - disse Raupp.

A indecisão pode acabar levando à votação do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que recomenda a absolvição de Renan, hipótese levantada por Sibá. No entanto, os aliados do presidente do Senado, temendo perder, não querem que o relatório vá a votação. Caso percam, ficará valendo o primeiro voto em separado pedindo aprofundamento das investigações. Neste caso, o relator seria o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).

Também há a possibilidade de votar um requerimento de inversão de pauta, o que impediria a votação do parecer de Cafeteira na frente. Sibá poderia encaminhar a decisão para a Mesa do Senado caso o parecer de Cafeteira seja rejeitado, o que agrada em cheio às pretensões de Renan, mas a estratégia é arriscada porque sofreria forte reação da oposição. Ou seja, até agora há uma grande indefinição sobre o futuro do processo.

A indefinição na base aliada em relação ao processo de cassação de Renan faz com que Sibá admita deixar a função:

- Se no meu entendimento o Conselho tiver extrema dificuldade de continuar seu trabalho, eu também me sinto em extrema dificuldade de continuar presidindo o Conselho - afirmou Sibá.

Constrangido, Sibá disse que pode renunciar se não surgir solução para o impasse:

- Se amanhã não decidirmos nada, eu renuncio.

O petista estaria particularmente irritado com Tião Viana (PT-AC), que teria levantado a hipótese de ele renunciar ao cargo. Sibá negou que esteja sofrendo pressão do PMDB, embora tenha deixado claro que cabe ao partido indicar o relator.

- Não estou nas mãos de ninguém. Eu sei o que pesa nas minhas responsabilidades. Não estou enterrando nada. A decisão de enterrar é do Conselho, eles é que vão votar - afirmou.

Sibá confirmou que se o PMDB não indicar um relator até a hora da sessão de quarta-feira, ele vai pôr em votação o relatório Cafeteira. Com isso, não seria feito o aprofundamento da perícia da PF e colhido o depoimento de Renan, acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior e de apresentar comprovantes de rendimentos irregulares. (Relembre as acusações contra Renan)

O presidente do Conselho de Ética descartou as as possibilidades apresentadas até agora para a relatoria. Segundo ele, o PT entendeu que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não deve ser o relator porque senão o partido estaria acumulando a função de presidente e relator do Conselho de Ética. Quanto a Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jefferson Peres (PDT-AM), Sibá disse que não podem relatar porque seus partidos apresentaram voto em separado. (Veja as alternativas de Renan no Conselho)

Sibá admitiu que não chamou o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) para relatar o processo porque delegou a função ao PMDB.

- Se ele (líder do PMDB, Valdir Raupp) disser que é o Gilvam, eu aceito de ofício.

Apesar de Sibá ter dito que a reunião de líderes desta terça-feira resolveria o impasse na relatoria, o próprio PT não participou do encontro, reunindo-se separadamente, inclusive com a participação de Sibá, para discutir o andamento do processo. Outro partido da base aliada que boicotou a reunião de líderes foi o PMDB, partido de Renan.

PDT propõe boicote; DEM quer afastamento de Renan

Líderes partidários do Senado reuniram-se na manhã desta terça-feira para discutir o andamento do processo contra Renan. O líder do PDT, Jefferson Peres (AM), foi mais radical e propôs um boicote às sessões do plenário do Senado para forçar o Conselho de Ética a escolher logo o relator.

O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que também participou da reunião, foi outro que cobrou de Sibá o anúncio ainda nesta terça do novo relator do processo. Agripino, no entanto, não apoiou a proposta de boicotar as sessões do plenário para inviabilizar a gestão de Renan.

O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), convocou uma reunião da Executiva do partido para a tarde desta terça quando será aprovada resolução pelo afastamento do presidente do Senado. O partido vai defender o afastamento de Renan por 15 a 20 dias, tempo que o Conselho teria para deliberar.

Gilvam Borges voltou nesta terça a se colocar à disposição para relatar a representação. No entanto, o amapaense foi descartado pelos aliados de Renan porque defende a ampliação das investigações por até 120 dias.

- Não me convidaram, mas dois já renunciaram e eu sou o último dos moicanos no PMDB. Sou um homem que tem disposição e coragem para encontrar uma solução para essa crise. Eu faria isso pelo país, pela Casa e pela democracia - afirmou.

Borges disse que está disposto a ser relator até mesmo contra a vontade do presidente do Senado, já que as perspectivas dentro do Conselho de Ética são de "muito trabalho" em um futuro próximo:

- Nós vamos ter muito trabalho pela frente. Tá chegando gente nova: daqui a pouco chega o Roriz e outros que têm situação delicada.

Renan se solidariza com Roriz

Ao chegar ao Congresso na manhã desta terça, Renan se solidarizou com o o ex-governador do DF e atual senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Renan disse estar sendo vítima de um "esquadrão da morte moral" e garantiu que vai resistir até o fim.

O PSOL deverá entrar com uma representação no Conselho de Ética do Senado contra Roriz, flagrado numa gravação da Polícia Civil de Brasília negociando com um ex-assessor uma divisão de dinheiro.

- Acho que isso tudo é uma espécie de esquadrão da morte moral. As pessoas, sem ter prova, anunciam a sentença e depois ficam como estão, sem saber o que fazer, porque não têm o que apresentar à sociedade. O que importa é que eu não me intimidarei. Eu resistirei até o fim.

PSOL entrará com ação contra Roriz e pedirá afastamento de Renan

A executiva e as bancadas do PSOL decidiram na tarde desta terça-feira que vão mesmo entrar com representação pedindo a cassação do mandato de Roriz. A representação será protocolada na quinta-feira pela presidente do partido, a ex-senadora Heloisa Helena (AL). No mesmo dia, o PSOL vai realizar uma manifestação pública, em frente ao Congresso, pedindo a cassação do mandato do presidente do Senado. O senador José Nery (PA) afirmou que a representação contra Roriz não reduzirá a pressão sobre Renan.

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