terça-feira, junho 26, 2007
A cobiça pentecostal
Dívida é causa de ameaça de morte entre deputados
Iracema Barreto
Sob proteção policial durante 24 horas, o deputado federal Carlos Willian (PTC-MG) declarou-se ontem estarrecido e preocupado com a constatação de que vem escapando da morte desde janeiro. Inquérito instaurado pela Polícia Civil de São Paulo apura a tentativa de homicídio contra o parlamentar, supostamente a mando de outro deputado mineiro, o pastor Mário de Oliveira (PSC), por conta de uma dívida R$ 800 mil. O ‘serviço‘ custaria R$ 150 mil. O caso ainda será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que envolve parlamentares, com foro privilegiado.
Carlos Willian confirma que vem tendo problemas de relacionamento com Mário de Oliveira desde 2002. Segundo ele, por ‘ciúmes‘ de seu desempenho político, o desafeto teria tentado agredi-lo e começado ainda uma campanha de difamação. ‘No ano passado, me reelegi e isso deve tê-lo irritado ainda mais‘, diz o parlamentar, que é casado, pai de três filhos. Ele diz sofre, desde 2005,perseguições de Mário de Oliveira.
A existência de um pistoleiro profissional - identificado apenas como Alemão - para matar Carlos Willian foi descoberta quando a polícia investigava um outro crime, que apontava Alemão como executor. Atrás do pistoleiro, os policiais acabaram prendendo, num shopping em Barueri (Grande São Paulo), Odair da Silva, que confessou ter contratado um pistoleiro a pedido de Celso Braz do Nascimento, para matar o parlamentar, de quem Mário de Oliveira já foi amigo.
Em depoimento no 7º Distrito Policial de Osasco (SP), Odair da Silva disse que esteve várias vezes em Belo Horizonte para receber orientações sobre o plano de homicídio, receber parte de seu pagamento e tentar executar o trabalho. Marquinhos é Marcos Régis de Moraes, motorista de Mário de Oliveira, segundo relatório policial. ‘Não existe motivo para me matarem‘, resumiu Carlos Willian, que foi avisado sobre o caso pela Polícia Civil de Osasco.
A encomenda do crime foi confirmada pela polícia por meio do acesso a conversas telefônicas mantidas entre Odair e Alemão. Ao fugir do cerco policial, o pistoleiro deixou para trás um cartão de memória telefônica onde havia as gravações. Além do cartão de memória, a polícia encontrou com Odair cópias da carteira nacional de habilitação de Geraldo Aguiar dos Santos, que mora na rua Marambaia 524, no Bairro Caiçara (Noroeste de BH). Na casa em frente, no número 535, mora o deputado Mário de Oliveira.
O deputado Mário de Oliveira não foi encontrado em casa pela reportagem. Uma mulher que se identificou apenas como Irene disse que o parlamentar mineiro está viajando, mas não informou o paradeiro. Na casa de Geraldo, uma moça de nome Juliana se apresentou como sobrinha de Mário de Oliveira e reforçou a informação de que ele estaria viajando. No bolso de Odair, a polícia encontrou um papel com o nome e endereço de Juliana Aguiar dos Santos, segundo ele irmã de Marquinhos.
Ainda de acordo com o relatório policial, a última tentativa de Alemão de concretizar ‘a encomenda‘ foi na quinta-feira passada, durante a visita do presidente Lula à capital mineira. Carlos Willian escapou porque integrava a comitiva de Lula, o que inviabilizou a ação do pistoleiro. ‘O que posso fazer agora é contratar um advogado para acompanhar o caso no Supremo. Eles (os ministros do STF) é que terão que fazer justiça‘, disse Carlos Willian
Caso Renan Calheiros: Esquenta debate e tropa de choque quer blindar senador
Caso Renan provoca bate-boca entre aliados e continua sem relator
Maria Lima e Ilimar Franco - O Globo; Agência Brasil; Jornal Hoje
BRASÍLIA - Sem relator desde a semana passada, o processo contra o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) pode provocar também a renúncia do presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), que anda irritado com as pressões que tem sofrido e passou para o PMDB a responsabilidade de indicar o novo relator. Em resposta a Sibá, o líder do partido no Senado, Valdir Raupp (RO), afirmou, na tarde desta terça-feira, que não é ele quem deve indicar o relator, iniciando um bate-boca entre os integrantes da base aliada:
- Não vou indicar um relator, na verdade quem nomeia é o presidente do Conselho - disse Raupp.
A indecisão pode acabar levando à votação do relatório do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA), que recomenda a absolvição de Renan, hipótese levantada por Sibá. No entanto, os aliados do presidente do Senado, temendo perder, não querem que o relatório vá a votação. Caso percam, ficará valendo o primeiro voto em separado pedindo aprofundamento das investigações. Neste caso, o relator seria o senador Marconi Perillo (PSDB-GO).
Também há a possibilidade de votar um requerimento de inversão de pauta, o que impediria a votação do parecer de Cafeteira na frente. Sibá poderia encaminhar a decisão para a Mesa do Senado caso o parecer de Cafeteira seja rejeitado, o que agrada em cheio às pretensões de Renan, mas a estratégia é arriscada porque sofreria forte reação da oposição. Ou seja, até agora há uma grande indefinição sobre o futuro do processo.
A indefinição na base aliada em relação ao processo de cassação de Renan faz com que Sibá admita deixar a função:
- Se no meu entendimento o Conselho tiver extrema dificuldade de continuar seu trabalho, eu também me sinto em extrema dificuldade de continuar presidindo o Conselho - afirmou Sibá.
Constrangido, Sibá disse que pode renunciar se não surgir solução para o impasse:
- Se amanhã não decidirmos nada, eu renuncio.
O petista estaria particularmente irritado com Tião Viana (PT-AC), que teria levantado a hipótese de ele renunciar ao cargo. Sibá negou que esteja sofrendo pressão do PMDB, embora tenha deixado claro que cabe ao partido indicar o relator.
- Não estou nas mãos de ninguém. Eu sei o que pesa nas minhas responsabilidades. Não estou enterrando nada. A decisão de enterrar é do Conselho, eles é que vão votar - afirmou.
Sibá confirmou que se o PMDB não indicar um relator até a hora da sessão de quarta-feira, ele vai pôr em votação o relatório Cafeteira. Com isso, não seria feito o aprofundamento da perícia da PF e colhido o depoimento de Renan, acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista da construtora Mendes Júnior e de apresentar comprovantes de rendimentos irregulares. (Relembre as acusações contra Renan)
O presidente do Conselho de Ética descartou as as possibilidades apresentadas até agora para a relatoria. Segundo ele, o PT entendeu que o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não deve ser o relator porque senão o partido estaria acumulando a função de presidente e relator do Conselho de Ética. Quanto a Demóstenes Torres (DEM-GO) e Jefferson Peres (PDT-AM), Sibá disse que não podem relatar porque seus partidos apresentaram voto em separado. (Veja as alternativas de Renan no Conselho)
Sibá admitiu que não chamou o senador Gilvam Borges (PMDB-AP) para relatar o processo porque delegou a função ao PMDB.
- Se ele (líder do PMDB, Valdir Raupp) disser que é o Gilvam, eu aceito de ofício.
Apesar de Sibá ter dito que a reunião de líderes desta terça-feira resolveria o impasse na relatoria, o próprio PT não participou do encontro, reunindo-se separadamente, inclusive com a participação de Sibá, para discutir o andamento do processo. Outro partido da base aliada que boicotou a reunião de líderes foi o PMDB, partido de Renan.
PDT propõe boicote; DEM quer afastamento de Renan
Líderes partidários do Senado reuniram-se na manhã desta terça-feira para discutir o andamento do processo contra Renan. O líder do PDT, Jefferson Peres (AM), foi mais radical e propôs um boicote às sessões do plenário do Senado para forçar o Conselho de Ética a escolher logo o relator.
O líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), que também participou da reunião, foi outro que cobrou de Sibá o anúncio ainda nesta terça do novo relator do processo. Agripino, no entanto, não apoiou a proposta de boicotar as sessões do plenário para inviabilizar a gestão de Renan.
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), convocou uma reunião da Executiva do partido para a tarde desta terça quando será aprovada resolução pelo afastamento do presidente do Senado. O partido vai defender o afastamento de Renan por 15 a 20 dias, tempo que o Conselho teria para deliberar.
Gilvam Borges voltou nesta terça a se colocar à disposição para relatar a representação. No entanto, o amapaense foi descartado pelos aliados de Renan porque defende a ampliação das investigações por até 120 dias.
- Não me convidaram, mas dois já renunciaram e eu sou o último dos moicanos no PMDB. Sou um homem que tem disposição e coragem para encontrar uma solução para essa crise. Eu faria isso pelo país, pela Casa e pela democracia - afirmou.
Borges disse que está disposto a ser relator até mesmo contra a vontade do presidente do Senado, já que as perspectivas dentro do Conselho de Ética são de "muito trabalho" em um futuro próximo:
- Nós vamos ter muito trabalho pela frente. Tá chegando gente nova: daqui a pouco chega o Roriz e outros que têm situação delicada.
Renan se solidariza com Roriz
Ao chegar ao Congresso na manhã desta terça, Renan se solidarizou com o o ex-governador do DF e atual senador Joaquim Roriz (PMDB-DF). Renan disse estar sendo vítima de um "esquadrão da morte moral" e garantiu que vai resistir até o fim.
O PSOL deverá entrar com uma representação no Conselho de Ética do Senado contra Roriz, flagrado numa gravação da Polícia Civil de Brasília negociando com um ex-assessor uma divisão de dinheiro.
- Acho que isso tudo é uma espécie de esquadrão da morte moral. As pessoas, sem ter prova, anunciam a sentença e depois ficam como estão, sem saber o que fazer, porque não têm o que apresentar à sociedade. O que importa é que eu não me intimidarei. Eu resistirei até o fim.
PSOL entrará com ação contra Roriz e pedirá afastamento de Renan
A executiva e as bancadas do PSOL decidiram na tarde desta terça-feira que vão mesmo entrar com representação pedindo a cassação do mandato de Roriz. A representação será protocolada na quinta-feira pela presidente do partido, a ex-senadora Heloisa Helena (AL). No mesmo dia, o PSOL vai realizar uma manifestação pública, em frente ao Congresso, pedindo a cassação do mandato do presidente do Senado. O senador José Nery (PA) afirmou que a representação contra Roriz não reduzirá a pressão sobre Renan.